sábado, 17 de dezembro de 2011

Convite à sombras

Te perdeste em meio a escuridão das sombras eternas, vagueando sem rumo entre as brumas da ilusão?
Nós também estivemos perdidos.
Erraste pelos caminhos tortuosos do engano, condenando tantos outros e a ti mesmo à severas e impiedosas punições?
Nós também erramos.
Trilhaste o caminho das viciações deixando o éter das paixões desenfreadas assolar os teu corpo, assaltando teu sentidos, perturbando profundamente tuas emoções?
Nós também nos deixamos perturbar.
Exalaste o fel da discórdia, promovendo a revolta, a ira e a revolta ao teu redor?
Nós também o espalhamos.
Não importa quão significativos sejam teu erros. Nós, que tanto ou ainda mais que tu já erramos, já logramos superá-los e tu também podes fazê-lo.
Não importa quão vergonhosos eles sejam agora para ti.  Nós, que muito mais que tu nos envergonhamos de tê-los cometido, o acolheremos de braços abertos.
Não importa quão importantes sejam teus enganos.  Nós, que desde muito temos errado, sabemos que nada pode ser maior que teu arrependimento sincero.
Estiveste imobilizado pela desilusão, permanecendo estático frente ao teu destino, desistindo de tua jornada e de ti mesmo?
Nós não.
Se caminhavas trôpego, suportávamos-te.
Se, incapaz de enxergar te afastavas do caminho verdadeiro, o iluminávamos para ti.
Se, perturbado, teu coração se descontrolava,  acalmávamos-o para ti.
Jamais estiveste só.  Jamais erraste só.  Ao teu lado nós celebramos os teus sucessos e choramos teus desfortúnios.  Ao teu lado enxugamos tuas lágrimas e alegramo-nos a cada conquista.  Muito fizemos por ti, agora convidamos-te a fazer o mesmo por outros muitos.

São Paulo, dezembro de 2011

sábado, 10 de dezembro de 2011

Porta estreita

Quando optei por adentrar a porta estreita não o fiz pleno de convicção.  Ao percorrer a delgada passagem afligia-me deixar para trás as paixões do coração, os divertimentos da mente e os prazeres do corpo.
Encontraria eu a paz de que tanto necessitava?
Eu não o sabia.  E também não cabe agora revelar o que encontrei do outro lado da porta.  Posso apenas afirmar que, no caminho da retidão, minha felicidade foi centuplicada.
Contudo, alerto à todos aqueles que sacrificam-se apenas em busca de recompensas e méritos, uma vez que estes se decepcionarão.
Vencedores não são os homens que superam e humilham seus pares.  Vencedores são aqueles que extinguem e reduzem suas imperfeições, pois a verdadeira vitória não é a vitória do homem sobre outro homem, mas a vitória do homem sobre si mesmo.
A verdadeira vitória é a conquista da evolução pessoal.

São Paulo, dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

A segunda milha

Aqueles que hoje percebem a claridade ao meu redor, iluminando a paisagem, não imaginam os anos que vaguei nas sombras do sofrimento.
Aqueles que sentem a brisa fresca e perfumada acariciando a pele não compreendem quão densa e pestilenta pode ser a atmosfera das regiões abissais onde só a dor reina suprema.
Se obstáculos eu encontrei em meu caminho: eu os superei.
Se a lança dos sofrimentos tocou meu coração: eu os suportei.
Se o aprendizado tornou-se doloroso: eu aprendi.
Deus convidou-me ao caminho mais longo.  A primeira milha eu percorri por dever, mas a segunda eu caminhei por mim mesmo (1).
Deus tornou meu caminho mais longo e penoso, mas nele eu evoluí.

São Paulo, dezembro de 2011
(1)  Mateus 5:41