quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Cabana na montanha

Apesar das críticas de meus parentes e da reprovação de meus amigos, decidi, no início da primavera, partir rumo às montanhas e lá construir uma cabana.
Devido minha idade avançada e, também, devido minha vontade de caprichar nos detalhes, a obra apenas terminou com as primeiras nevascas de inverno.
Poucos dias após, no entanto, fui acometido por terrível enfermidade. Mesmo tendo sido conduzido para a aldeia no vale, onde recebi os cuidados médicos necessários, vim a falecer.
Meu filho mais velho, que morava em outra localidade distante, a fim de prestar-me as homenagens fúnebres deveria, então, enfrentar a perigosa travessia das montanhas em pleno inverno.
Seu cavalo não resistiu à aspereza da jornada e sucumbiu frente às dificuldades da viagem.
A vida de meu filho seria ceifada não tivesse ele encontrado, em local onde sabia nada existir, uma cabana nova, bem construída e desabitada. A minha cabana.
Ainda não sei porque Deus tirou-me a vida, mas já sei porque ele me a deu.
Deus concedeu-me o dom da vida para que eu pudesse multiplicá-lo junto a meus descendentes, transformando os elementos da natureza com meu trabalho de modo a garantir que a vida seja preservada e se perpetue.

São Paulo, fevereiro de 2010

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