Apesar dos anos de convívio, ainda tenho olhos de admiração e de inveja para meu cavalo.
Ele possui os cascos grossos da paciência, com os quais transpõe, sem perturbar-se, as rochas os espinhos e as dificuldades do caminho.
Graças a sua mansuetude, ele aceita com alegria e disposição os comandos de seu condutor.
O sol, a chuva, o vento e o frio não o fazem desistir da jornada e sua respiração, calma e harmonizada, permite que ele caminhe por léguas sem descanso.
Ao contrário, eu me desespero frente as menores agruras e blasfemo contra os desígnios superiores.
Ante as adversidades climáticas penso em desistir da jornada e minha respiração, embargada pelas emoções, em nada contribui para melhorar estes quadro.
Assim, junto à fogueira da noite eu ergo meus olhos para o céu, em direção às estrelas, e rogo sinceramente ao Pai: - "Senhor, engrossai nossos cascos".
São Paulo, março de 2010
domingo, 28 de março de 2010
quarta-feira, 17 de março de 2010
Pegadas
Não faria sentido algum caminhar sobre as rochas onde meus pés não deixam marcas ou rastros.
Assim, caminho na areia e na poeira das estradas, deixando nelas impressas minhas pegadas, testemunhas de minha passagem por este mundo.
Desta forma meus filhos e os filhos destes poderão, se assim desejarem, seguirem meus passos.
Valho-me, também, de outros sinais.
Nas árvores junto ao caminho amarro fitas coloridas e, nas colinas onde oro e repouso meu corpo, ergo pequenas pilhas de pedras.
As fitas, sopradas pelo vento, nos lembram que estamos todos sujeitos a uma força maior e as pedras, imóveis, não nos deixam esquecer que a única coisa perene neste mundo é o amor que colocamos em nossas orações.
Então, sigo meu caminho, o caminho já percorrido por meu pai e pelo pai dele, desfrutando o legado de experiências que eles me deixaram, pois a educação, transmitida de geração a geração, é a chave para a evolução maior.
São Paulo, março de 2010
Assim, caminho na areia e na poeira das estradas, deixando nelas impressas minhas pegadas, testemunhas de minha passagem por este mundo.
Desta forma meus filhos e os filhos destes poderão, se assim desejarem, seguirem meus passos.
Valho-me, também, de outros sinais.
Nas árvores junto ao caminho amarro fitas coloridas e, nas colinas onde oro e repouso meu corpo, ergo pequenas pilhas de pedras.
As fitas, sopradas pelo vento, nos lembram que estamos todos sujeitos a uma força maior e as pedras, imóveis, não nos deixam esquecer que a única coisa perene neste mundo é o amor que colocamos em nossas orações.
Então, sigo meu caminho, o caminho já percorrido por meu pai e pelo pai dele, desfrutando o legado de experiências que eles me deixaram, pois a educação, transmitida de geração a geração, é a chave para a evolução maior.
São Paulo, março de 2010
quinta-feira, 11 de março de 2010
Jonas
É uma região habitada por pessoas brutas e de modos rudes, diziam.
Outros afirmavam que nem o sangue de todos os santos poderiam conferir alguma angelitude àquelas terras.
Isso não desanimou Jonas, que para lá seguiu, levando apenas seu cajado de peregrino e seu caderno de notas.
Dotado de prosa ligeira, astuta, Jonas possuía incrível capacidade para contar estórias e, não raro, reuniam-se ao seu redor dezenas e dezenas de atentos ouvintes.
Aproveitando a audiência, Jonas pontuava sua narrativa com lições de fé, de amor e de caridade.
Após sete anos uma senhora o inquiriu: - "Jonas, quando nos tornaremos bons cristãos?".
E o missionário respondeu: -"Durante sete anos convivi convosco, sentei-me a vossa mesa e convosco dividi o abrigo, e nunca, durante todo esse tempo, observei quaisquer gesto, pensamento ou inclinação para o mal". "O bom cristão - prosseguiu - não é o que possui títulos. Não é que carrega o crucifixo junto ao peito. O bom cristão o é, antes mesmo de sabê-lo".
E com essas palavras Jonas despediu-se de seus amigos, partindo para outras terras onde seus ensinamentos se faziam necessários, levando consigo em sua memória e em seu caderno de notas sete novos anos de estórias.
São Paulo, março de 2010
sexta-feira, 5 de março de 2010
Deserto
Na vastidão das estepes asiáticas havia uma aldeia cujo povo vivia à margem de um grande deserto.
Ao completarem 14 anos os rapazes daquela aldeia precisavam, a fim de mostrarem coragem e serem reconhecidos pelos demais membros, empreender uma jornada solitária de vários dias, cruzando o deserto em sua porção mais árida, até a outra extremidade onde deveriam recolher e trazerem consigo as flores de determinado cacto que florescia apenas naquele local. As flores seriam, então, a prova da conclusão da jornada e, ostentadas junto à gola de seus mantos, prova de sua coragem.
Se observado todos os conselhos dos mais velhos, a travessia, apesar das dificuldades, não representaria grande perigo. Os mais velhos conheciam bem o caminho e, tendo já concluído a travessia diversas vezes, conheciam seus perigos e aconselhavam sobre o que era importante levar nas mochilas dos garotos.
Eles recomendaram para todos viajantes, entre eles os primos Isnar e Kassim, levarem 10 litros de água cada. Contudo, devido ao temperamento pessoal e inclinações particulares, eles não obedeceram a essa recomendação.
Isnar desejava ser o primeiro a completar a jornada, o primeiro a retornar a aldeia com as flores, sendo reconhecido, assim, não só pela sua coragem mas pela sua força e agilidade. Os 10 litros de água iriam dificultar sua marcha. Assim, para poder caminhar mais rápido, Isnar levou consigo apenas 5 litros de água.
Kassim, um menino franzino, não pretendia disputar as glórias com Isnar. Dar-se-ia por satisfeito apenas completando a jornada. Seu caminhar era lento e ele temia que seu suprimento de água terminasse antes que completasse a travessia. Desse modo, achou mais prudente levar em sua mochila 15 litros de água.
Dias mais tarde, todos os garotos, exceto os primos Isnar e Kassim haviam retornado do deserto. Os aldeões aguardaram ainda mais alguns dias e então equipes de busca foram enviadas.
Os corpos inertes dos primos foram encontrados apenas algumas centenas de metros um do outro. Isnar havia consumido todo seu suprimento de água e seu corpo apresentava sinais evidentes de desidratação. Kassim, por outro lado, ainda possuía muita água em sua mochila, mas o peso excessivo desta havia imposto a ele um esforço além de seus limites e seu corpo sucumbiu de exaustão.
A imprudência e a ambição de Isnar, bem como o temor e a falta de confiança de Kassim, cobraram seu preço.
Na vida, ante as dificuldades, não coloquemos nossas fraquezas acima do conhecimento e do senso comum. Não sejamos precipitados e irresponsáveis a ponto de colocarmos em risco toda a conquista. Porém, não sejamos, também, excessivamente zelosos ou temerosos a ponto de não darmos o primeiro passo.
São Paulo, março de 2010
Ao completarem 14 anos os rapazes daquela aldeia precisavam, a fim de mostrarem coragem e serem reconhecidos pelos demais membros, empreender uma jornada solitária de vários dias, cruzando o deserto em sua porção mais árida, até a outra extremidade onde deveriam recolher e trazerem consigo as flores de determinado cacto que florescia apenas naquele local. As flores seriam, então, a prova da conclusão da jornada e, ostentadas junto à gola de seus mantos, prova de sua coragem.
Se observado todos os conselhos dos mais velhos, a travessia, apesar das dificuldades, não representaria grande perigo. Os mais velhos conheciam bem o caminho e, tendo já concluído a travessia diversas vezes, conheciam seus perigos e aconselhavam sobre o que era importante levar nas mochilas dos garotos.
Eles recomendaram para todos viajantes, entre eles os primos Isnar e Kassim, levarem 10 litros de água cada. Contudo, devido ao temperamento pessoal e inclinações particulares, eles não obedeceram a essa recomendação.
Isnar desejava ser o primeiro a completar a jornada, o primeiro a retornar a aldeia com as flores, sendo reconhecido, assim, não só pela sua coragem mas pela sua força e agilidade. Os 10 litros de água iriam dificultar sua marcha. Assim, para poder caminhar mais rápido, Isnar levou consigo apenas 5 litros de água.
Kassim, um menino franzino, não pretendia disputar as glórias com Isnar. Dar-se-ia por satisfeito apenas completando a jornada. Seu caminhar era lento e ele temia que seu suprimento de água terminasse antes que completasse a travessia. Desse modo, achou mais prudente levar em sua mochila 15 litros de água.
Dias mais tarde, todos os garotos, exceto os primos Isnar e Kassim haviam retornado do deserto. Os aldeões aguardaram ainda mais alguns dias e então equipes de busca foram enviadas.
Os corpos inertes dos primos foram encontrados apenas algumas centenas de metros um do outro. Isnar havia consumido todo seu suprimento de água e seu corpo apresentava sinais evidentes de desidratação. Kassim, por outro lado, ainda possuía muita água em sua mochila, mas o peso excessivo desta havia imposto a ele um esforço além de seus limites e seu corpo sucumbiu de exaustão.
A imprudência e a ambição de Isnar, bem como o temor e a falta de confiança de Kassim, cobraram seu preço.
Na vida, ante as dificuldades, não coloquemos nossas fraquezas acima do conhecimento e do senso comum. Não sejamos precipitados e irresponsáveis a ponto de colocarmos em risco toda a conquista. Porém, não sejamos, também, excessivamente zelosos ou temerosos a ponto de não darmos o primeiro passo.
São Paulo, março de 2010
quinta-feira, 4 de março de 2010
Sentado à beira do caminho
Sentado à beira do caminho passei vários anos de minha vida.
Recostava-me no tronco de uma árvore frondosa, aproveitando sua sombra e, eventualmente, degustava seus frutos.
Distraía-me observando os viajantes apressados e atarefados ora seguirem em uma direção, ora em outra.
Certa manhã, porém, surpreendi-me com a visão de uma magnífica carruagem sem cavalos cujas rodas não tocavam o solo.
O estranho veículo, com visíveis problemas mecânicos, parou a poucos metros do local onde eu estava e seu condutor prontamente dele saltou para efetuar os reparos necessários.
Enquanto isso corroía-me a curiosidade. Tentava imaginar as sensações ao vencer longas distâncias sem esforço ou ainda imaginar quem seria o meritório passageiro de tão elegante veículo.
Ainda mergulhado em meus questionamentos, ouvi o condutor me chamar e convidar-me a viajar naquele veículo.
Tomado de surpresa, lembrei-o que o passageiro daquele transporte poderia não gostar de meu atrevimento em tomar-lhe o posto, ao que ele me respondeu:
- "Sobre o que pensa o passageiro respondas-me tu, pois minha missão aqui não é outra senão resgatar-te, porque nos caminhos do Senhor ninguém é deixado para trás."
Então ergui-me e dirigi-me para a estranha carruagem lembrando das palavras que minha mãe repetia:
- "Jamais pergunte por quem os sinos dobram, se você pode ouví-los, eles dobram por você."
São Paulo, fevereiro de 2010
Recostava-me no tronco de uma árvore frondosa, aproveitando sua sombra e, eventualmente, degustava seus frutos.
Distraía-me observando os viajantes apressados e atarefados ora seguirem em uma direção, ora em outra.
Certa manhã, porém, surpreendi-me com a visão de uma magnífica carruagem sem cavalos cujas rodas não tocavam o solo.
O estranho veículo, com visíveis problemas mecânicos, parou a poucos metros do local onde eu estava e seu condutor prontamente dele saltou para efetuar os reparos necessários.
Enquanto isso corroía-me a curiosidade. Tentava imaginar as sensações ao vencer longas distâncias sem esforço ou ainda imaginar quem seria o meritório passageiro de tão elegante veículo.
Ainda mergulhado em meus questionamentos, ouvi o condutor me chamar e convidar-me a viajar naquele veículo.
Tomado de surpresa, lembrei-o que o passageiro daquele transporte poderia não gostar de meu atrevimento em tomar-lhe o posto, ao que ele me respondeu:
- "Sobre o que pensa o passageiro respondas-me tu, pois minha missão aqui não é outra senão resgatar-te, porque nos caminhos do Senhor ninguém é deixado para trás."
Então ergui-me e dirigi-me para a estranha carruagem lembrando das palavras que minha mãe repetia:
- "Jamais pergunte por quem os sinos dobram, se você pode ouví-los, eles dobram por você."
São Paulo, fevereiro de 2010
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