Na vastidão das estepes asiáticas havia uma aldeia cujo povo vivia à margem de um grande deserto.
Ao completarem 14 anos os rapazes daquela aldeia precisavam, a fim de mostrarem coragem e serem reconhecidos pelos demais membros, empreender uma jornada solitária de vários dias, cruzando o deserto em sua porção mais árida, até a outra extremidade onde deveriam recolher e trazerem consigo as flores de determinado cacto que florescia apenas naquele local. As flores seriam, então, a prova da conclusão da jornada e, ostentadas junto à gola de seus mantos, prova de sua coragem.
Se observado todos os conselhos dos mais velhos, a travessia, apesar das dificuldades, não representaria grande perigo. Os mais velhos conheciam bem o caminho e, tendo já concluído a travessia diversas vezes, conheciam seus perigos e aconselhavam sobre o que era importante levar nas mochilas dos garotos.
Eles recomendaram para todos viajantes, entre eles os primos Isnar e Kassim, levarem 10 litros de água cada. Contudo, devido ao temperamento pessoal e inclinações particulares, eles não obedeceram a essa recomendação.
Isnar desejava ser o primeiro a completar a jornada, o primeiro a retornar a aldeia com as flores, sendo reconhecido, assim, não só pela sua coragem mas pela sua força e agilidade. Os 10 litros de água iriam dificultar sua marcha. Assim, para poder caminhar mais rápido, Isnar levou consigo apenas 5 litros de água.
Kassim, um menino franzino, não pretendia disputar as glórias com Isnar. Dar-se-ia por satisfeito apenas completando a jornada. Seu caminhar era lento e ele temia que seu suprimento de água terminasse antes que completasse a travessia. Desse modo, achou mais prudente levar em sua mochila 15 litros de água.
Dias mais tarde, todos os garotos, exceto os primos Isnar e Kassim haviam retornado do deserto. Os aldeões aguardaram ainda mais alguns dias e então equipes de busca foram enviadas.
Os corpos inertes dos primos foram encontrados apenas algumas centenas de metros um do outro. Isnar havia consumido todo seu suprimento de água e seu corpo apresentava sinais evidentes de desidratação. Kassim, por outro lado, ainda possuía muita água em sua mochila, mas o peso excessivo desta havia imposto a ele um esforço além de seus limites e seu corpo sucumbiu de exaustão.
A imprudência e a ambição de Isnar, bem como o temor e a falta de confiança de Kassim, cobraram seu preço.
Na vida, ante as dificuldades, não coloquemos nossas fraquezas acima do conhecimento e do senso comum. Não sejamos precipitados e irresponsáveis a ponto de colocarmos em risco toda a conquista. Porém, não sejamos, também, excessivamente zelosos ou temerosos a ponto de não darmos o primeiro passo.
São Paulo, março de 2010
sexta-feira, 5 de março de 2010
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