César era um garoto de 12 anos que vivia em um país distante. Órfão de mãe, a principal atividade de César era cuidar de seu irmão caçula de 4 anos. A família, que vivia sob dificuldades financeiras, contava apenas com o salário de seu pai que, como pedreiro, não conseguia obter o bastante para o sustento dos três.
Um dia, porém, o pai de César sofreu um grave acidente que ocasionou a fratura de duas vértebras lombares. A lesão atingiu o feixe de nervos de sua coluna, paralisando suas pernas e incapacitando-o para o trabalho.
Sem contar com um plano de saúde, o pai de César foi atendido pelo serviço médico público. Lá, uma consulta com um médico especialista foi agendada, contudo apenas para dali a nove meses.
Enquanto a família vivia da caridade de vizinhos e aguardava a consulta médica, César empenhava-se em buscar uma solução alternativa.
Dirigiu-se ao Ministério do Trabalho e lá solicitou auxílio do Serviço de Apoio ao Trabalhador. O pedido foi negado, alegando-se que seu pai, agora enfermo, não era mais um trabalhador.
Solicitou, então auxílio ao Serviço de Assistência aos Enfermos. Este, alegando que o seu pai era um acidentado e não um enfermo, negou prestar auxílio.
O Ministério da Saúde tampouco aceitou ajudar. Para eles o pai de César era uma pessoa doente e esse Ministério apenas auxiliava pessoas saudáveis.
Juntamente com um advogado, condoído pela situação do garoto e de sua família, César visitou durante meses inúmeras outras repartições públicas sem, contudo, obter nenhum tipo de auxílio. Vendo que o garoto estava prestes a desistir da busca por auxílio, o advogado confidenciou-lhe um segredo: Algumas pessoas acreditam que em um local remoto da cidade existia um tal Ministério das Causas Impossíveis e Improváveis.
Munido apenas de um mapa rudimentar desenhado sobre um guardanapo de papel, César partiu em busca dessa que era sua última oportunidade.
Depois de dias de buscas infrutíferas, finalmente César encontrou o que procurava. O Ministério das Causas Impossíveis e Improváveis situava-se em suntuosa edificação à semelhança de uma grande catedral que, mesmo desgastada pelo tempo, ainda guardava muito de seu esplendor original.
Quando adentrou o edifício percebeu ainda quão mais bela e impressionante era a sua arquitetura. Mas logo algo mais impressionante desviou sua atenção dos detalhes da edificação: o prédio encontrava-se completamente vazio.
Nada de porteiros, seguranças ou portarias. Apenas o enorme hall vazio.
Nada de gabinetes, mesas, arquivos e funcionários. Apenas salas vazias.
Nenhum ruído de máquina de escrever, ventilador ou telefone. Apenas o vento zunindo por entre as frestas das janelas.
Procurando pistas que o levassem a descobrir para onde foram todas pessoas que lá trabalhavam, César deparou-se com a biblioteca do Ministério.
Lá, como esperado, não havia estantes com livros, revistas ou publicações. Porém, no chão da biblioteca jazia coberto de poeira um pequeno livreto de capa preta desgastada pelo tempo. Ao folhear o livreto César percebeu que tinha em mãos um exemplar do Livro das Causas Impossíveis e Improváveis.
Então César sentou-se no chão e pôs-se a ler avidamente o conteúdo daquelas páginas.
Através da leitura, conheceu a estória de um menino alemão que só aprendeu a falar aos 4 anos e ler aos 8. E que, como não gostava de estudar, foi reprovado no exame de admissão e teve que estudar mais um ano para entrar no colegial. Contrariando os prognósticos, ele se tornou um dos maiores gênios da ciência: Albert Einstein.
Aprendeu sobre um rapaz norte-americano que foi demitido de seu primeiro emprego por que seu chefe, editor de um jornal, disse que ele não tinha boas idéias. Contrariando a opinião de seu chefe, ele se tornou um dos mais criativos e inovadores artistas: Walt Disney.
Descobriu que um outro menino, portador de dislexia, era duramente criticado pelas suas professoras, que afirmavam que ele era tão estúpido que jamais aprenderia nada. Ele ficou conhecido tempos depois como um dos maiores inventores da história: Thomas Edson.
Conheceu a estória de uma garota que, considerada feia e sem graça, era sempre recusada em todas os testes de modelos. O dono de uma agência chegou a aconselhá-la: "é melhor você estudar secretariado, porque você nunca fará sucesso como modelo". O nome dela era Norma e, ao contrário da previsão do dono desta agência, ela se tornou um dos maiores ícones do século XX: Marilyn Monroe.
Enquanto aprendia sobre a solução brilhante de algumas causas impossíveis e improváveis, César, envolvido pela leitura, não percebia que ao seu redor uma névoa se formava e que, através desta, podiam ser vistas silhuetas de funcionários, mesas e objetos.
Ao dissipar a bruma, César ergueu os olhos e percebeu estar sentado no chão de uma agitada repartição pública.
Levantou-se do chão auxiliado por um funcionário que o convidou sentar-se em uma cadeira à frente de sua mesa de trabalho. Sem nada dizer e, sorrindo, o funcionário estendeu a César uma caneta e uma grande folha de papel, com detalhes dourados que emolduravam magnífica caligrafia.
Tratava-se de uma Petição endereçada ao Ministério das Causas Impossíveis e Improváveis.
César assinou e entregou a Petição ao escrivão que a enrolou cuidadosamente e a colocou dentro de um estojo, como um diploma.
O escrivão, então, acompanhou César até a saída, e este agradeceu a atenção que o funcionário havia dispensado ao seu caso.
César caminhou alguns passos pelo corredor e, surpreso, ao olhar para trás reviu novamente a biblioteca vazia e empoeirada. Teria sido tudo um sonho ?
Dias, semanas, meses se passaram até a data da esperada consulta médica.
Naquele dia o pai de César, sentado em sua cadeira de rodas, foi encaminhado ao gabinete médico. César e o irmão caçula, por serem menores de idade, ficaram aguardando na recepção da clínica, sob as vistas de uma enfermeira.
Em dado momento, o médico surgiu à porta e exigiu, nervoso, a presença da enfermeira no consultório.
Lá dentro, na frente do médico e da enfermeira, algo impossível e improvável acontecia.
Reclamando sentir dores e formigamento em suas pernas, o pai de César erguia-se, sem qualquer auxílio, da cadeira de rodas onde havia se mantido imóvel por 9 meses.
Lá fora, sem saber do ocorrido, César, o menino a quem nada mais era impossível ou improvável, aguardava confiante o restabelecimento de seu pai.
São Paulo, outubro de 2008