segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Transformação e evolução

Não menospreze a força do rio, que cava profundo sulco no terreno pedregoso.
Não menospreze a força do vento, que açoita o monte e transforma a rocha em pó.
Não menospreze a força da terra, onde germinam plantas e frutos que alimentam homens e animais.
Não menospreze a força do relâmpago, que incendeia a floresta e propicia a esta um novo recomeço.
Abra os olhos dos sentidos e observe os elementos que tudo transformam, pois a natureza é eterna transformação.
Transformação também ocorre no homem, que cresce e envelhece; no jovem presunçoso que se torna um idoso paciente.
E é no mundo dos homens que vemos mais transformações. O que os elementos produziram em séculos é desfeito, alterado, ampliado, renovado e adaptado em poucos segundos.
A cada geração o homem mais transforma, mais usa, mais movimenta, mais remove o seu ambiente.
A cada geração maior é a cobiça e o desejo por possuir bens transformados, erguidos, lapidados, construídos e remodelados.
A cada geração o homem mais se distancia do passado e das tradições, do conhecimento simples e da fé inabalável, do comedimento e da parcimônia, da satisfação através das pequenas coisas (o frescor da água, o sabor de uma fruta, o aroma de uma raiz) e dos pequenos gestos (um olhar terno, o afagar de mãos, o amparo de um ombro amigo).
O homem transformou o mundo para o seu prazer, tornando-se um déspota cruel de si mesmo, a exigir sempre mais, mais rapidamente e mais eficazmente. Ainda não compreendeu que a multiplicidade de existências, a faculdade de retornar sistematicamente do pó a vida e da vida ao pó, não foi concedida somente para que ele possa livremente alterar a aparência dos mundos, no exercício de sua inteligência e personalidade. Ainda não percebeu que a sucessão de oportunidades ocorrem para que ele possa, a cada alvorecer da vida, acumular experiências, somar valores morais, adquirir virtudes, transformando-se, enfim, em um homem melhor. Melhor que o do último poente e mais confiante a cada solstício.
A natureza, então, se transforma para nos nos lembrar a responsabilidade por nossa própria renovação.

São Paulo, outubro de 2003

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