quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O amor, a chama e o coração

A chama do amor acalma, suaviza, balsamiza e cura.
O coração em chamas, por outro lado, inquieta e desequilibra. É fortaleza do ciúme, passaporte para a agonia.

O homem prudente desfruta de todas emoções que seu coração sente.
O homem imprudente permite que as emoções desfrutem de seu corpo.

O homem prudente guia seu coração, dirigindo a luz de seu amor para onde ela se faz necessária.
O homem imprudente deixa-se arrastar pelos sentimentos, até os abismos da amargura.

Nem tudo que vem do coração é suave e agradável. Descontrolado, um coração fere como um punho de ferro.

Tornar-se senhor de si e de seus sentimentos, assumindo o controle de suas emoções, não é algo que aprendemos nos bancos escolares, mas algo fundamental para que possamos prosseguir crescendo.

São Paulo, janeiro de 2005

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Dona Isaura

Em 1939, quando tinha apenas 10 anos de idade, Isaura, que ainda pouco conhecia do mundo ao seu redor, foi enviada ao curso de catecismo da paróquia local. Lá aprendeu sobre Deus, Jesus e os apóstolos. Aprendeu que o Deus da nova aliança é um Deus de amor, de justiça, de perdão, e que jamais abandona seus filhos, assim como se espera de qualquer pai amoroso. Aprendeu, também, que Jesus nos foi enviado por Deus para nos salvar, nos redimir de nossos pecados, nos mostrar o caminho a seguir.
Tudo isso enchia os olhos de Isaura de lágrimas e de esperança.
Eram tempos difíceis. Havia pouco o que comer e menos ainda meios de obter trabalho e dinheiro. Todos falavam da terrível guerra, do racionamento e do futuro sombrio, o que assustava a jovem Isaura.
Mas esse sentimento de angústia se dissipou por completo quando Isaura tomou conhecimento do evangelho de João. Lá, no capítulo 14, versículo 18, estava bem claro o que ela queria ouvir e o que esperava que Jesus dissesse: "Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós".
Levando a termo essas palavras, no dia seguinte a jovem Isaura colocou uma cadeira na calçada em frente a sua casa e lá ficou durante toda a manhã, esperando a volta de Jesus.
Os dias se passavam mas sua fé era inquebrantável. Durante a espera aprendeu a fazer tricô, crochê, bordados e, com a venda das peças que produzia, auxiliava nos gastos da casa.
Tendo na mente a certeza que Jesus voltaria e chegaria pela manhã, já que muito tinha a ser feito no mundo naquele dia, ela dedicava o período da tarde aos afazeres domésticos.
Isaura se casou, teve filhos, netos e, sessenta anos depois ainda esperava o retorno do Messias. Era um compromisso de Jesus !
Não sabia quando isso aconteceria, mas a máxima popular lhe dava uma pista: "A mil chegará, mas de dois mil não passará". Então, a poucos meses do ano 2000, o retorno de Jesus deveria estar próximo.
O mês de dezembro do ano 2000 foi particularmente quente, mas Dona Isaura estava radiante, dentro de alguns dias Jesus voltaria e ela poderia avistar a sua majestosa figura no final da rua.
Porém, passou o Natal, passou o Reveillon, o verão se findou, e nada de diferente ela observou na rua.
Pensando ser um problema do calendário, ela ainda esperou Jesus todas as manhãs, sentada na cadeira, por mais um ano.
Então, um dia os transeuntes viram um fato inusitado: após 62 anos ininterruptos Dona Isaura não estava mais sentada em sua cadeira.
O assunto rapidamente tomou as ruas do bairro. Teria Dona Isaura perdido a fé??
Jornalistas, equipes de TV e fotógrafos disputavam espaço com centenas de curiosos que se acotovelavam na frente da casa de Dona Isaura. Mas apenas o pároco teve permissão de lá entrar.
Dona Isaura estava inconformada, recusava-se a sair do quarto e mantinha os olhos fixos na imagem de Jesus em um quadro na parede. Ao seu lado, o pároco tomava suas mãos e lhe confessava que a sua fé e determinação serviam de exemplo e de motivação para milhares de pessoas. Ao verem aquela senhora em sua cadeira a espera de Jesus, os corações dos desenganados, dos doentes, dos oprimidos se enchiam de esperança e de coragem.
Mas Dona Isaura não ouvia essas palavras. Absorta estava na imagem do quadro.
Foi quando então percebeu que os cabelos da imagem de Jesus balançaram suavemente.
Uma suave e perfumada brisa bafejou o seu rosto cansado e vincado pelas longas horas sob o sol. Os olhos do Cristo na imagem faiscaram e de sua boca algumas palavras escaparam.
O corpo de Dona Isaura tremeu e, como acordada de um sonho, ela voltou-se ao pároco e, apontando para o quadro, disse: - "Ele me falou que já voltou e que está entre nós. Rápido, vamos lá fora !" - e confessou : "Padre, acho que preciso de óculos novos !"

São Paulo, abril de 2008

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Crianças (dia das crianças 2003)

Sim, ainda somos todos crianças. Crianças na alma e crianças no pensar.
Como crianças, a curiosidade nos envolve e nos projeta para a frente, para descobrirmos este novo mundo que ao nossos olhos agora se descortina.
Como as pequenas criaturas, muitas vezes teremos medo e sentiremos vontade de voltar.
Como seres infantis, por muitas vezes desejaremos estar em outro lugar, em outro mundo, em outro trabalho.
Nós temos a capacidade de escolhermos a hora e o momento, o lugar e o espaço, os costumes e a cultura, mas não podemos escolher o tema de nosso aprendizado, sob risco de não bem sabermos escolhê-lo e, assim, ainda mais nos demorarmos no caminho.
A passos de criança, por vezes hesitantes, nos movemos. Mas não estamos, tampouco, sós.
Ombro a ombro seguem conosco milhares de outros. Alguns mais esclarecidos, outros mais confusos e inseguros. E muito podemos realizar no auxílio desses menos afortunados de conhecimento e convicção.
Envolva-os no amor fraternal; dirija-lhes palavras de incentivo e de ânimo. Mantenha-os no caminho correto o quanto puderes, sem jamais ferir seus desejos, sua liberdade, nunca impondo a eles a tua verdade.
Quando muitos se unem no bem é como a torrente de um rio cujas águas não conhecem obstáculos. Quando a força desses membros e os sentimentos desses corações abraçam o trabalho dignificante, nada pode detê-los a não ser a dúvida e o temor que encerram no peito.
Afaste a insegurança. Afaste o temor e lance, sem vacilar, seus braços ao trabalho redentor.
Estenda, confiante, tuas mãos aos que sofrem, pois não há tarefa mais bela ou mais singela que amar verdadeiramente teu irmão.

São Paulo, outubro de 2003

sábado, 26 de setembro de 2009

Mecânica celeste

Se a floresta é por demais escura, usa a tua luz interior. Alimente-a com tua fé e, logo, novos espaços se descortinarão frente a teus olhos.
Se o ruído dos animais te inspira temor, lembre-se que todos são igualmente criaturas de Deus e, o que Dele vem não pode te ferir.

Preocupa-te com cada um de teus passos. Deixa-te agasalhar em uma oração e sinta-te confortado pelas mãos do Senhor.
Se mantiveres passo largo, breve alcançarás uma clareira, onde em límpido regato poderás te refrescar e descansar.

Toda jornada é assim. Há momentos em que o temor nos contagia e nos domina mas, vencido este temor, a vida nos recompensa com suas bênçãos.

Somente alcança a paz aquele que dela se faz merecedor.
Somente segue em frente aquele que não se contenta apenas com os prazeres fugazes que a vida oferece.
Abre mão de algo que, no momento, parece muito bom e agradável para que num instante seguinte abraçar algo muito mais gracioso e significativo.

A vida nos oferece múltiplas oportunidades, diversos caminhos, diferentes situações.
Indistintamente, de modo mais rápido e leve ou de modo mais lento e pesaroso, todas nos levam ao Pai.
Do pó à poeira das estrelas. Tal é a mecânica celeste.

São Paulo, setembro de 2003

Pedir e obter

O que pede e aquele que obtém.

O que pede encontra amparo
na certeza do apoio de Deus.

Aquele que obtém encontra amparo
na própria graça obtida.

Todavia, ambos não podem esquecer
que toda prece, toda rogativa,
todo pedido, toda oração,
encontra eco no mundo maior.

Pois no mundo maior há sempre
uma mão para amparar,
há sempre uma letra para ensinar,
há sempre uma palavra para consolar,
há sempre um gesto para curar.
Basta termos fé.


São Paulo, agosto de 2006

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

De mãos dadas com Jesus

"Dê-me tudo o que tens e segue-me".
Não. Não foi isso que Jesus nos pediu. As riquezas, senão as da alma, pouco importam ao Mestre.

Capaz de transformar grãos de areia em palácios de ouro, Jesus preferiu transformar migalhas em pães e peixes para alimentar seus discípulos.

Mais que alimento para o corpo, Jesus nos fornece o alimento da alma, saciando a sêde de consolo e a fome de esperança dos que os seguem.

Então, reduza sua atenção aos tesouros materiais e siga o Mestre.

Ou melhor, não o siga.
Caminhe com Ele lado a lado, ombro a ombro, de braços dados, de mãos dadas, rumo ao lugar que o Pai reservou a ti.

São Paulo, maio de 2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Medicina da natureza

O brilho da estrela maior por entre as folhas do bosque.
O perfume das flores incensando o ar.
O ruído das águas do rio contra as rochas da corredeira.
Em contato com os elementos da natureza, mais que banquete a nossos sentidos, sentimos convite a harmonização, reflexão e introspecção.
O pássaro após longa longa jornada busca as margens de um lago tranquilo, onde encontra repouso e alimento.
A manada ao fim de extensa rota migratória detêm-se em verdes campos, procurando recuperar as energias.
De mesma sorte, saibamos nós aproveitarmos cada momento em contato com a natureza, onde a atmosfera é límpida e as energias mais suaves, para dela extrairmos os elementos necessários para nosso reequilíbrio, refazimento e para a cura de nossos males do corpo e da alma.

São Paulo, setembro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Amparo de Deus

Enquanto você desperta e se prepara para ir trabalhar, em algum lugar um soldado esquadrinha os céus em busca de possíveis ameaças.
Não, ele não deseja nem espera que teu país seja atacado, mas não esmorece em sua tarefa.
Enquanto você relaxa após um dia de trabalho, não longe dali um médico e sua equipe permanecem de plantão em um hospital, prontos para atendê-lo.
Não, ele não deseja que adoeças, mas mantém-se inabalável em seu turno.
Durante todos os dias, em todos momentos do dia, a mão quente, paterna e carinhosa de Deus nos ampara e nos sustenta.
Não, ele não deseja nossa queda ou nossa ruína, mas seu amor por nós é infinito.
Ainda que esqueçamos o soldado vigilante, o médico dedicado, o bombeiro atento, o policial cuidadoso, jamais esqueçamos a presença de Deus junto a nós, porque ele jamais se esquece de nós.

São Paulo, maio de 2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Confiança

Aos trabalhadores do bem e aos obreiros do porvir nunca são demasiadas as mensagens de estímulo e conforto.
Se o sol das dificuldades abrasa teu rosto, refugie-se na sombra da cruz.

Se o cansaço assalta teu corpo, deite sua cabeça não na pedra fria, mas no colo macio do mestre Jesus.
Se a sêde do desânimo recai sobre teus lábios, refresque-os com as palavras do evangelho.

Confie, siga e jamais desista.
Todo gesto no bem é abençoado.
Antes que desses o primeiro passo, Deus, nosso Pai, já havia construído, pavimentado e arborizado larga avenida para tua jornada.

Cumpra teu caminho sem temor. O caminho que escolheste, o que desejaste e o que necessitas percorrer.


São Paulo, junho de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Luz da criação

Amigos, saibam que todos aqueles que oram, à cada palavra proferida, banhada nas bênçãos do coração, fazem brilhar uma nova estrela na escuridão da desesperança.

Saibam amigos, que todos aqueles que praticam a caridade, à cada gesto, à cada ação em favor dos menos favorecidos, acendem uma tocha na noite do desamor.

Em todos lugares onde o amor e a caridade de Jesus alcançam uma luz se faz presente, pois a luz é a energia primária da criação divina, força criadora e renovadora, responsável pelo estabelecimento e manutenção do Reino dos Céus.


São Paulo, abril de 2009


Nossos filhos

O homem que lança a semente ao solo fértil não dá as costas ao trabalho.
Antes que os frutos cresçam e amadureçam, o homem terá cercado a plantação, protegendo-a do vento e do frio. Terá propiciado condições para que a água atinja as raízes, terá adubado e fertilizando o solo, bem como afastado insetos e pragas.

Se o homem possui tamanho zelo com os frutos de seu trabalho, não pode apresentar zelo menor para com os frutos de seu ventre.

Nossos filhos precisam mais que amparo, cuidados e proteção. Nossos filhos precisam de educação. E transmitir a educação é responsabilidade de quem a possui.

É preciso que fixemos, desde cedo, junto à nossos ramos infantes a estaca da moral e do evangelho, para que estas possam crescer e se desenvolverem com retidão, rumo ao alto, como é o desejo de nosso Pai.

São Paulo, outubro de 2004

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Três reis

Eles marcharam por dias e noites a fio. Jamais se mostraram cansados ou sequer pensaram em desistir.
Eles traziam objetos de valor, mas não deixaram-se abater pelos perigos que poderiam estar correndo. Cruzaram regiões inóspitas, onde rara é a água e dispersa é a vegetação, mas mantiveram sempre seus corações serenos e plenos de amor.
Em meio onde muitos encontrariam não mais que um punhado de trigo eles defrontaram-se com a razão de sua busca. Onde muitos observariam apenas mais um menino eles encontraram uma razão para viver, a mão firme que a tudo conduz. Melquior, Malaquias e Baltazar, enfim, encontraram-se face a face com a materialização de nosso mestre Jesus.
Os Reis Magos também nos ensinam muitas outras coisas. Nos revelam que a busca não se inicia no primeiro passo, mas muito antes, quando é necessário mergulharmos no conhecimento, nos livros, nas escrituras, nas obras edificantes.
Através dessa etapa encontramos uma força que nos impelirá e nos conduzirá, como a estrela matutina na noite eterna.
Fundamentada na razão e no conhecimento adquiridos, a busca se inicia, passo a passo, na direção segura que já aprendemos confiar.
Sabendo, como os Reis Magos, o que se busca e, conhecendo a direção a seguir, a jornada segue em agradável atmosfera, suave e serena, não representando obstáculo à vontade férrea e sedimentada.
Os Reis Magos, graças ao conhecimento e a direção correta, seguiram confiantes e, ao final, encontraram uma riqueza que há muitos passaria despercebida.
Os verdadeiros tesouros não se mostram brilhantes nem marcante ostentação. Mais brilha a palha das virtudes que os diamantes da cobiça. Mais reluz a manjedoura humilde que o trono de ouro dos seculares.
Tudo isso nos adverte que muito há onde pensamos não haver nada e que pouco resta ao olhar atento sobre os locais onde erroneamente se imaginava existir fartura.
Os reais tesouros não são os que refletem luz ou os que sob ela brilham. Os reais tesouros, da alma, possuem luz própria.

São Paulo, dezembro de 2003

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

À sombra do farol

Erga os olhos para o céu e observe, no alto, a estrela matutina.
Arme-se com os elementos da natureza e prepare-se para o embate.
Combata o mal sem medo e em todos lugares. Mas não combata o mal com as mesmas armas que este usa contra você.
Combata o mal com o bem, semeando e provendo condições para que a esperança nasça nas mais áridas condições.
Não desanime, pois são extensos os campos de sofrimento e muito há por se fazer em favor da caridade e do amor.
Mantenha-se à sombra do farol, que em todas direções emite luz.
Mantenha-se perto de onde pulsa teu coração
Siga-nos. Venha ver a colheita florescer e a vida germinar.
Nós, também, nem tudo sabemos. Mas sempre há algo que podemos, juntos, aprender.

São Paulo, setembro de 2003

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Nossa força interior

Muitos de nós apreciariam possuir o semblante feroz de um animal acuado que frente a seu opositor e, aos olhos deste, faz-se maior e mais forte.
Mas nossa natureza é bem outra, interior. Nossa energia é outra.

O que reside em nós é a força do rochedo que resiste às intempéries silencioso e calado.
Nós nos desconhecemos e esquecemos que dentro de nós há uma mescla de todas as forças do universo.

Justapomos nossas mãos em prece sincera e faz-se a luz.
Estendemos nossas mãos em caridade verdadeira e produzimos maravilhas e curas. Erguemos nossos braços para o alto em doação desinteressada e faz-se a paz.
Estas forças, tais como o rochedo, jazem adormecidas dentro de nós aguardando o momento em que esteja preparada a mente capaz de controlá-las.
E quando chegar esse momento elas serão despertadas, uma a uma.

São Paulo, dezembro de 2004

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O Natal do Sr. Gilberto

Ninguém mais estranhava as manias do Sr. Gilberto. Contando com mais de 80 anos, aposentado e morando em sua própria casa com a neta, ele podia dar vazão a todas suas vontades e excentricidades. A Sra. Crescência, a dedicada empregada que cuidava de Gilberto durante o tempo que a filha se ausentava para trabalhar, que o diga.
A família não conseguiu impedir que certa vez Gilberto e mais um quatro meninos do bairro construíssem uma casa de madeira na árvore. Nem tampouco pode impedi-lo quando ele decidiu plantar vários pés de couve-de-bruxelas no antigo canteiro reservado às rosas.
Porém, nos últimos meses Gilberto andava muito estranho. Vivia calado, pelos cantos da casa, pensativo, não raro carregando uma desgastada Bíblia e, diferentemente de muitos que gostam de apenas portá-las, Gilberto passava horas lendo o seu conteúdo.
A surpresa veio naquela manhã de quinta-feira. Ao chegar para o trabalho Crescência deparou-se com o Sr. Gilberto na sala, desencaixotando a árvore e os enfeites de Natal que ficavam o ano todo guardados no sótão.
Crescência, então, telefonou para neta do patrão e este pode ouvir parte do diálogo:
- "Dona Rosângela, seu avô tomou os remédios dele hoje de manhã?"
...
- "Tomou? Bem, porque eu acho que ele endoidou de vez. Imagine a senhora que ele está lá na sala, montando o presépio e a velha árvore de Natal".
....
- "Eu sei, Dona Rosângela, ainda estamos junho. Faltam mais de 6 meses para o Natal. Eu sei, Dona Rosângela, eu sei, o seu avô é que não sabe mais nem que dia é hoje."

Sob a orientação da neta, Crescência passou o dia fingindo não ver e nem se importar com a frenética atividade que Gilberto desenvolvia na sala.
Quando Rosângela voltou para casa, um pouco mais cedo que o habitual, dada as circunstâncias, certificou-se do relato. Lá estava a velha árvore, majestosa, ocupando o lugar sempre antes destinado a ela no Natal. O Sr. Gilberto não economizou nos detalhes, usando bolinhas, enfeites, fitas, guirlandas, tudo encimado por uma estrela dourada.
Rosângela não mais se lembrava da última vez que havia visto aquela árvore montada. Desde o falecimento de sua avó, há mais de 15 anos, Gilberto evitava toda forma de comemoração natalina. Ela não sabia o que dizer, quando ele a interpelou, apontando para a árvore:
- "E então, gostou ?"
- "Anhh...sim, vovô, claro! Ela é muito linda. Mas, por que o senhor montou essa árvore hoje?"
- "Ora, para comemorar o Natal." - respondeu com tranqüilidade o avô.
- "Natal, vovô ?? - replicou a neta sem paciência - Natal ?! Nós estamos em junho! Em junho!! Faltam 6 meses para o Natal!! Entendeu?"
- "Claro, entendi. Você é que ainda não entendeu"
Rosângela emudeceu. Mesmo achando que as palavras do avô vinham de um mundo de sonhos e imaginação, ela resolveu ouvi-las.
Assim, entusiasmado com a oportunidade, Gilberto pôs-se a explicar.
Disse que há meses meditava sobre o assunto e que havia descoberto ser errado comemorar-se o Natal em dezembro. Aquele Natal do dia 25 de dezembro, afirmava, era uma grande farsa e deveria ser banido.
- "Mas vovô" - questionou Rosângela - "de onde o senhor tirou essa idéia?"
- "Daqui" - indicou 'seu' Gilberto, apontando para a Bíblia.
Rosângela meneou a cabeça. Enfim, talvez Dona Crescência tivesse razão: Vovô ficou louco!
Mas ele continuou seu discurso. Disse que o Natal representava o nascimento de Jesus. Mas Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro, nem tampouco nasceu em Belém.
- "Quer ver ??" - perguntou. E pôs-se a exemplificar:
Para Saulo, informou Gilberto, Jesus nasceu em uma estrada empoeirada de Damasco quando o velho Saulo morreu e ele se tornou Paulo de Tarso.
Para Maria de Magdala, Jesus nasceu em Bethânia quando a voz de pureza do Mestre despertou nela a sensação de uma vida nova.
Para João Batista, Jesus nasceu às margens do rio Jordão, sob a luz do espírito santo, quando João teve a honra de batizá-lo.
Para Pedro, o pescador, Jesus nasceu à noite, depois de o galo ter cantado pela terceira vez e depois de Pedro ter acordado para sua verdadeira missão.
Para Zaqueu, o publicano, Jesus nasceu em Jericó, quando ele estava em cima de uma árvore e recebeu a proposta honrosa de receber o Mestre em sua casa.
Para o apóstolo Tomé, Jesus nasceu em Jerusalém, naquele dia em que ele, incrédulo, pode testemunhar a morte não tinha poder sobre o Filho de Deus.
Para Dimas, o ladrão arrependido, Jesus nasceu em uma cruz, no alto do Calvário, quando ele pelo Divino Salvador foi perdoado.
- "Vês, minha neta? Para muitas pessoas Jesus não nasceu em Belém, nem em dezembro, nem em uma manjedoura." - concluiu o ancião - "Pouco importa quando, onde e como Jesus tenha nascido. O que importa é quando o deixamos habitar nosso coração. Quando o deixamos transformar nossa vida."
Rosângela ouvia tudo com atenção, não contendo algumas lágrimas que insistiam em rolar de seu rosto.
- "Rosângela, você está chorando. Você está com algum problema?" - perguntou o avô.
- "Não vovô, eu estou apenas emocionada. É que hoje Jesus nasceu."

São Paulo, junho de 2008

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A paz idealizada

Mesmo no mais afastado ponto do espaço não encontramos a paz que almejamos.
Lá, imensos sóis lançam à atmosfera labaredas de fogo.
Planetas percorrem trajetórias velozes, fustigados por tempestades magnéticas.

A paz que almejamos assemelha-se à superfície de um lago, onde tudo parece estar suspenso, como em um lapso de tempo.
Contudo, centímetros abaixo da linha d'agua a vida animal e vegetal fervilha.
Isso porque a paz não é um estado de inatividade, de letargia.
É antes um estado de almas, lugar onde as forças criativas de Deus obtêm
maior fluidez e velocidade.
Um estado tal que nos faz refletir: Se meu Pai ainda trabalha, por que devo eu ainda descansar ?

São Paulo, dezembro de 2008

sábado, 12 de setembro de 2009

A pedra e o limo

A pedra, imóvel por sua natureza, cerca-se de ambiente fértil onde cresce o limo.
O homem, imóvel por opção, cerca-se de ambiente nocivo onde nada germina.

Amigos, se a página de nossas vidas está envelhecida, amarelada e desgastada é hora de virarmos essa página e iniciarmos um novo capítulo, um novo parágrafo, uma nova expressão de nossa existência.

Após cada dia o veludo da noite nos envolve concedendo-nos o tempo exato para o repouso e a pausa adequada para reflexão.

Reflitamos então sobre o dia e roguemos a Deus que nos conceda forças para empunharmos com segurança a pluma do destino, carregada não com a tintura do sangue e das lágrimas, mas com o suor da determinação e o brilho da esperança e da fé.


São Paulo, junho de 2009

O triunfo da verdade

Pouco importa a aridez do solo, a poeira, as temperaturas elevadas ou os ventos que fustigam o deserto.
No momento correto, ajustado, gotas de uma chuva ligeira encontrarão as sementes adormecidas no solo e tudo se tingirá com novas cores e matizes, renovando a vida em flores e aromas.
Assim também acontece em nossas vidas.

Pouco importa a aridez das relações humanas, a poeira da hipocrisia, as tempestades de emoções em desequilíbrio ou o sopro de sentimentos doentios.

No momento certo, chuva de bênçãos recairão dos céus revelando a verdade, pois a verdade, assim como a vida, sempre triunfa.


São Paulo, julho de 2009

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Mãos de luz

Mãos que curam. Mãos que se envolvem de luz, de amor, de compaixão e que operam a serviço do bem. Mãos que afagam, que consolam, que apaziguam, que limpam as chagas e devolvem a vida, a esperança e a fé a quem delas se afastou.
Os que trabalham pelo próximo são os que trabalham para o Pai. Estes, por sua vez, não são os eleitos da Graça, mas sim os que galgaram todos os degraus, superaram todas as dificuldades e ultrapassaram seus limites para colocarem-se à serviço de Deus.
O ministério da cura não é uma dádiva, é antes uma conquista, e somente os que fazem por merecer o alcançam.
Todo aquele que vive e respira no bem possui a semente, a centelha do poder maior em si.
Está em tuas mãos o destino de tuas obras. Não desperdices o momento de servir, de velar e de aconselhar aqueles que cruzam teu caminho.
Veja os fluidos de luz, como pequenas auroras boreais, que fluem de tuas mãos. São formas brilhantes da energia natural, impelida e acelerada pelo poder da vontade.
Essa matéria viva restaura, purifica, acalma e transforma.
E não é preciso que sejas um mestre para bem usá-las. Lance mão da tua intuição, de teu desejo, de teu amor, sem medidas e deixe que teu coração guie tuas mãos de luz.
Trabalhe no bem. Aqueça quem tem frio com teu calor. Envolva o solitário com teu abraço. Embale, carinhosamente, o desamparado.
De que são feitos os sonhos de paz e harmonia mundiais se não dessa mesma matéria?
Não represe os bons sentimentos. Deixe esse amor fluir livremente.
As almas famintas de consolo e atenção agradecem cada gesto nesta intenção.
Que Deus, em sua infinita graça, abençoe os humildes, permitindo que sua luz os alcance onde quer eles estejam.

São Paulo, outubro de 2003

Um mundo sem Deus

Um homem sonhou com um mundo sem Deus.
Nesse mundo o rio não mais corria. Suas águas não sentiam mais necessidade de correrem para saciar a sede das plantas e dos animais.

As plantas, por sua vez, não mais cresciam, pois não sentiam mais necessidade de alimentarem
quem quer que fosse.

Os animais já haviam desistido de caçar,
e os seres humanos permaneciam prostrados,
deitados em leitos, porque haviam desistido de viver.

Quando o homem acordou desse sonho
percebeu que todas as coisas que existem no mundo
são obras exclusivas de Deus.
E mais, todas as coisas do mundo, mesmo as menores e as mais insignificantes, servem a Deus.
E o homem, então, pôde incluir-se entre essas coisas, pois somos criados por Deus e a Deus deveremos retornar.

São Paulo, novembro de 2006

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Sonhos

Embale carinhosamente teus sonhos.
Como fazes com uma criança, tome-os em teus braços, alimente-os, proteja-os, mas sem exageros, pois se o fino orvalho da noite refresca as flores, em excesso queima suas delicadas pétalas.

Assim, antes que a manhã termine,
antes que a tarde alcance seu fim,
antes que a noite seja apenas lembrança,
antes que a vela se apague,
tome tua enxada e saia para plantar os ramos a ti designados no jardim da esperança.
E não trabalharás só.
Deus, nosso Pai, aquele que jamais descansa, aquele que ainda trabalha, te acompanhará.
Ele trabalhará ao teu lado, para você e por você.

São Paulo, julho de 2009

Testemunhas silenciosas

Muitas vezes é preciso que tomemos um homem pelas mãos para indicarmos a este o caminho a seguir. Mas, ao termos essas mãos em nossas mãos, muita coisa, também, apreendemos de seu universo íntimo.
Essas mãos nos revelam se foram usadas na lida do machado, cortando toras de madeira. Se portaram espadas em guerras fratricidas. Se afagaram a pelugem de um animal ou, se abraçaram seus familiares, seus filhos, e se a estes dedicaram o desmedido amor e carinho.
As mãos de um homem, instrumentos de tudo o que ele faz podem, portanto, muito sobre ele próprio revelarem.
Na volta ao seio da vida natural perguntar-se-ão: "O que fizestes com as mãos que a ti foram confiadas?"
As mãos não são o local de concepção ou a sede dos dons de um homem, mas são os meios que este dom utiliza-se para fisicamente manifestar-se.
Há aqueles que recebem esses dons, dão graças aos céus e, por esses céus os empregam. Há outros, porém, que independentemente serem gratos ou não à fonte geradora de todas as qualidades, os utilizam apenas para proveito próprio, para satisfação de desejos mesquinhos, para a contemplação e gozo de prazeres efêmeros. Isso quando ainda, de modo inconsequente, contribuem para arrastamento de outrem às essas sensações vazias que, como o éter, no espaço se diluem.
Examine tuas mãos, testemunhas silenciosas de teus atos. Reflita sobre as marcas que elas trazem e, de que modo as tem utilizado, para que não te arrependas quando for demasiadamente tardio.
Se neste momento de reflexão a dúvida o abater, ou ainda, se temer pelo resultado teu julgamento, una tuas mãos em rogativa ao Pai e busque junto a Ele o fortalecimento de que necessitas, pois nosso Pai muito nos ama e muito deseja a união e o congraçamento de todos os seus filhos.

São Paulo, setembro de 2003

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Nosso Mestre

Da inolvidável passagem do Divino Espírito de Luz em nosso planeta não restam mais testemunhas vivas.
Não nos deixou sequer uma linha, mas suas palavras, que não se perderam ao vento, ainda ecoam em nossos ouvidos.
Não envergou toga de legislador, entretanto suas leis são o sustentáculo do atual direito universal.
Não ergueu templos, igrejas, monumentos ou catedrais, mas suas obras ainda nos causam impressão e assombro.
Não se deixou retratar ou pintar, mas a luz de sua expressão banha o rosto de todos aqueles que rogam por seu auxílio.
Não acrescentou ao seu nome sobrenome ou títulos nobiliários, entretanto, com mansietude e humildade, tornou-se soberano de nossos corações.

São Paulo, fevereiro de 2009

Raios de luz

Aprecie. Na escura noite faz-se a chuva que, como bênçãos, higieniza o ar e purifica a Terra. Observe os relâmpagos e trovões que testemunham o poder infinito de Deus sobre as forças naturais.
Aprenda como movemos nossos bastões, desenhando círculos no ar, reunindo condições e dissipando negatividades com o fim de que um hemisfério de luz nos cubra e nos proteja.
Velar pela própria proteção é algo importante que todos devemos cedo aprender pois não tarda o momento em que vagas tempestivas e forças irracionais, miríades de formas magnéticas, se abaterão sobre os incautos e imprevidentes, arrastando-os ao desespero e ao pranto.
Meditando, orando e aprendendo a usar esse arco de luz nos defendemos da agressividade dos improbos.
Uma bifurcação se estende ante nós. Há dois caminhos a tomar e você deve se dirigir pelo que melhor lhe aprouver. Nós, contudo, desejamos que apanhes o caminho correto onde mais à frente o encontraremos.
Não se pode servir a dois senhores. Não se pode percorrer duas estradas simultaneamente.
Reflita, medite. Busque no amparo e na proteção da oração o conforto para apoiar tua decisão.
O tempo urge, e o momento é agora.

São Paulo, setembro de 2003

Auxílio do alto

Não aguardemos chancela divina a nossos gestos irresponsáveis e intempestivos.
Como, também, não esperemos cumplicidade superior a nossos desequilíbrios emocionais temperados pelo ciúme, pelo orgulho ou pela ambição.
Mesmo assim, se optamos nadar em águas turvas, oceanos da dúvida, não o fazemos sós, ladeados que estamos por criaturas luminosas, prontas e preparadas para realizarem nosso resgate redentor.
Ainda que mergulhemos nas profundidades abissais da revolta, da ira, sempre permaneceremos ao alcance das redes de Jesus, verdadeiro pescador de almas.
Não há objeto, pessoa ou local intocável à luz divina. Ela tudo penetra e abençoa. É a única e real luz do mundo. E, sendo única, até a sombra mais escura e densa existe apenas por sua concessão e graça.

São Paulo, agosto de 2009

sábado, 5 de setembro de 2009

Mundo material

Quantos são os homens que ainda procuram a felicidade no lado errado da vida? O mundo material apenas satisfaz a matéria.
O homem, ser espiritual, no entanto, requer qualidades de outra natureza.

Quantos são os que possuem o cofre cheio e o coração vazio?
Quantos são os que possuem a casa cheia e a vida vazia?

Reunamos tesouros verdadeiros,
os tesouros do Reino dos Céus.
E o Reino dos Céus está dentro de nós.

Então, repartamos o nosso amor com quem desconhece esse sentimento.
Repartamos nossa paz com quem desconhece a harmonia.
Repartamos nosso conhecimento com aqueles que se perderam no caminho.
Pois só a caridade nos liberta e nos permite amar-nos uns aos outros como o Mestre nos ensinou.

São Paulo, novembro de 2006

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Lamento

Se transformas tua vida em um vale de lágrimas, não
espere encontrar um mar de sorrisos ao dobrar a próxima esquina.

Se conduzes teu destino através do nevoeiro da discórdia, não espere encontrar a paz, como um sol, após a próxima colina.

Se deixas teu corpo afundar no lodo das viciações, não espere, como os pássaros, ascender aos céus.

A mola propulsora de nossa existência é a vontade.
Se desejas ser feliz: sorria.
Se desejas ser amado: ame.
Se desejas ser consolado: console.
Se desejas desfrutar de uma vida plena e dadivosa: confie em Jesus e viva.

São Paulo, junho de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A necessária coragem

Fácil é deixarmos os assuntos cotidianos de nossa vida, ao sabor dos acontecimentos, guiarem os caminhos de nossa existência. Difícil é fazer o contrário. É preciso coragem.
Fácil é eliminarmos a vida de um irmão com o qual tenhamos diferenças políticas, religiosas ou quaisquer outras. Coragem, no entanto, faz-se necessário para mantê-lo vivo, compreender e entender o seu ponto de vista.
Fácil é encarcerarmos um irmão o qual pretendemos silenciar a voz. Coragem, outra vez, é necessário para deixá-lo se expressar com liberdade, deixando os outros julgarem suas palavras.
Coragem é necessário para assumirmos as rédeas de nossas vidas, refletindo para onde e de que modo desejamos caminhar.
Coragem é necessário para que reconheçamos que a cada dia podemos fazer deste mundo um mundo melhor.
Coragem faz-se necessário para permitirmos o Mestre Jesus ser o único e verdadeiro guia de nossas vidas.

São Paulo, fevereiro de 2009

Escada para o Pai

Aos primeiros sinais da alvorada ergamos os estandartes da esperança e desfraldemos ao vento as bandeiras da fé. Sintamos a brisa matutina em nossas faces, secando nossas lágrimas e refrescando nossos ânimos para um novo dia.
Cada obstáculo superado, cada dificuldade ultrapassada nos eleva a um novo patamar, um novo estágio, um novo degrau em nossa escalada ascencional rumo ao Pai.

A inexorável evolução a o poder da oração modificam a face de nosso planeta, transformando a ganância em caridade, a indiferença em carinho e as moedas de ouro em suaves gotas de amor.

São Paulo, setembro de 2009

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A história de Gerta

Quando Gerta desembarcou no Porto de Santos desejava apenas uma coisa: esquecer o passado. Em fuga, deixava para trás sua amada pátria, a Alemanha, completamente destruída pelos horrores da segunda guerra mundial.
A fim de desconectar-se do passado e, valendo-se da fluência no idioma francês, adotou uma nova identidade e uma outra nacionalidade. Em sua nova vida em terras brasileiras, Gerta seria conhecida como Bernardette, a governanta francesa.
A convite de uma amiga, poucos dias depois, chegou à cidade de São Paulo. Lá fixou residência, trocando definitivamente as missas na Marienkirche, a igreja de Santa Maria em Dortmund, sua cidade natal, pelas realizadas na Igreja de Santa Cecília.
Com o auxílio da amiga, logo conseguiu um emprego trabalhando como governanta na casa de uma abastada família no bairro do Bom Retiro.
Os patrões não se importaram com o fato de Bernardette não saber falar quase nada em português, muito pelo contrário. Oriundos da Europa, desejavam que os filhos melhorassem a pronúncia, o vocabulário, e obtivessem fluência no idioma de Molière e Victor Hugo.
Porém, para surpresa de Gerta, ela logo percebeu estar em meio a uma família judaica e, naquele momento, agradeceu o fato de seu nome e sua procedência falsa não levantarem quaisquer suspeitas. Mesmo assim, isso a perturbava. O que os patrões pensariam caso soubessem que confiaram a uma alemã a guarda da casa e a educação dos filhos?
Gerta não parecia ter dúvidas sobre o seu destino. Face aos recentes acontecimentos na Europa, os patrões certamente a expulsariam da casa e, uma vez desvendada a sua farsa, onde mais poderia obter outro emprego?
Durante meses, anos, Gerta alimentou esperanças de reunir uma quantia de dinheiro que a permitisse retornar ao seu país e retomar sua vida.
E assim ela fez. Após 14 anos de trabalho naquele lar, Gerta já possuía dinheiro bastante para voltar à Alemanha e lá, abrir seu próprio negócio, dedicando-se ao que mais gostava de fazer: bolos, doces e tortas.
Contudo, Gerta, não podia abandonar aquela família e aquela casa apressadamente. Havia se apegado às crianças, agora já crescidas, e a bondade e respeito com que sempre foi tratada não era algo que podia desprezar.
Então Gerta, usando parte de suas economias, preparou para aqueles que aprendeu a amar uma ceia de despedida. Ela esmerou-se no preparo das saladas, assados e grelhados e, claro, reservou a surpresa para o final: as sobremesas, sua especialidade.
A família surpreendeu-se com o evento e com o requintado bom gosto dos pratos. Mas renderam-se aos sabores das finas sobremesas cuidadosamente preparadas por aquela que elas chamavam carinhosamente de "Dette".
Ao final da refeição, comovido, o patriarca da família, Sr. Absalom, ergueu-se e agradeceu a ceia, bem como os anos de extrema dedicação de Bernardette à sua família.
Dona Esther e as crianças, Miriam e Laila, choravam e abraçavam Bernardette, quando o Sr. Absalom anunciou que gostaria de entregar uma lembrança à dedicada governanta, algo que ela pudesse sempre recordar o quanto era querida pela aquela família.
Então ele entregou a ela uma caixinha de veludo roxo. Do interior da mesma, Bernardette retirou um lindo relicário em ouro, em forma de pingente, com uma correntinha do mesmo material. Abrindo-o Bernardette pode ver em uma das faces uma foto de toda a família Weismann e na outra uma inscrição: "Gerta, jamais te esqueceremos !"
O sangue desapareceu das faces de Bernardette e um arrepio gelado percorreu seu corpo.
As pernas pareciam não ter mais condições de suportar o peso de seu corpo que, envolto pelo temor, encontrava-se completamente paralisado.
Segundos intermináveis se passaram, cada um abrigando milhões de pensamentos em sua mente, até que Bernardette pudesse, lentamente retomando o controle de seu corpo, voltar seu rosto para a direção do Sr. Absalom.
Os olhos do patriarca fitaram os seus, envergonhando-a ainda mais. Bernardette sentia o chão sumir sob os seu pés.
Foi quando uma mão, terna, pousou sobre a sua. Era a mão de Dona Esther e, logo suas palavras se fizeram ouvir:
- "Nós sempre soubemos seu verdadeiro nome e de onde você veio. Não entendíamos porque desejava ser chamada por outro nome, mas aceitamos. Porém, muito mais surpresos ficamos em ver como você realmente amava as pequeninas e, ainda, como Miriam e Laila rapidamente, se afeiçoaram a você."
- "Mas vocês deveriam sentir ódio de mim e de meu povo..." - murmurou Gerta.
- "Não, Gerta, ou Bernardette, não sei como chamá-la..." - interrompeu o Sr. Absalom.
- "Me chame de Gerta, senhor."
- "Pois bem, Gerta, veja o relicário que te dei. Antes de abri-lo você poderia tomá-lo por um relicário qualquer, igual a muitos outros que se encontram nas vitrines das lojas. Mas quando o fez descobriu que ele era único e especial."
- "Sim, senhor Absalom, ele é especial." - e o patriarca continuou:
- "É nós somos como ele. Por fora somos todos iguais, sem distinção. Mas por dentro possuímos um coração repleto de emoções, boas ou más, que permanecem ocultas."
E após alguns segundos ele retomou:
- "Há 15 anos atrás, para nós, Gerta, você era apenas mais uma jovem alemã, refugiada de guerra, e poderíamos temê-la e ter recusado seus serviços apenas por esse aspecto. Mas, preferimos julgá-la apenas depois de conhecer o seu coração, o seu interior. E não nos arrependemos! Veja quanto do seu amor e de sua dedicação teríamos perdido por nos deixar levar apenas pelas impressões exteriores."
Gerta soluçava e não mais conseguia reter as lágrimas que lhe percorriam as faces.
E então, o Sr. Absalom concluiu:
- "Não podemos medir um homem pela sua fortuna ou pela sua posição social, a medida de um homem é a medida de seu coração".
E uma luz de amor brilhou naquela casa.

São Paulo, maio de 2008

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Chamado Lakota (parte 1 e 2)

Desde os remotos tempos em que os nobres guerreiros habitavam as verdejantes planícies das Dakotas (1), segue-se uma linhagem de homens devotados no bem, na luz e na caridade.
Nossa honra não se maculará, pois temos dentro de nossos corações a certeza dos espíritos puros. Trazemos as marcas do tempo e da imortalidade da alma.
Que estas certezas não sejam apagadas nem tampouco esquecidas. Em vez disso, que se difundam e se multipliquem entre todos os homens de boa fé.
Tenhamos coragem! Sejamos confiantes!
Venceremos, assim como venceram nossos ancestrais.
Glória a Deus e a todos!

Que todos vocês que agora sabem minha história e meu propósito possam me seguir nessa trilha de luz e serenidade, no serviço ao amor, no serviço ao altíssimo. Boa vontade e fé é só o que pedimos àqueles que, com a graças dos céus, desejam servir. Venham e sigam o Mestre!

(1) Dakota do Norte e Dakota do Sul, estados norte-americanos, terras originalmente ocupadas pelos índios da tribo Lakota.
São Paulo, maio de 2002

Terras de sofrimento

Ouça a sua volta o coro de vozes que choram , em lamúrios e lamentos. Observe as criaturas e o lodo que delas se avizinha. Os seres de formas indescritíveis não são mais que nossos irmãos.
Há sim, terras de sofrimento. Há, infelizmente, localidades banhadas pelo ódio e pela irracionalidade, onde o desamor, o rancor e a cólera plantaram suas sementes e lá vicejam.
Veja a importância de nossa colaboração, orando e pacificando estas remotas regiões, trazendo compreensão, a fé inabalável e a verdade à um mundo que se crê esquecido pelo Criador.
Relembre os comprometimentos que possuímos com o despertar desses amigos, reconduzindo-os novamente ao caminho da evolução.
Não se deixe impressionar pelas imagens e pelos sons. Não se deixe perturbar pelas sensações. Confie apenas em seu coração que, tingido pelas cores do Mestre, brilha e assume inimagináveis proporções.
Consinta que uma prece lhe escape aos lábios e regue, com carinho incondicional, as abrasadoras rochas da imobilidade humana, em sincero chamado ao refrigério da renovação.
Por fim, não imponha barreiras ao fluxo de seu amor. Permita-o fluir livre e pleno de seu peito em todas direções e rogue, rogue ao Pai misericórdia e bênçãos por todos os que choram e sofrem.
Nem tudo em nosso caminho são flores e perfumes mas, nosso dever supremo é plantá-las onde elas não existem e aguardar que seus aromas benfazejos iluminem e purifiquem os mais remotos recônditos.
Sigamos trabalhando em paz e pela paz.

São Paulo, setembro de 2003