quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A fome e a sede de nossas almas

No fundo do vale, encoberto pela vegetação, corre um regato cristalino.
Lá, com as mãos unidas em concha eu retiro da terra o líquido precioso da vida, levo-o aos meus lábios e sacio a minha sede.
Nas planícies verdes, até onde a vista alcança, eu uno minhas mãos e abraço a espiga dourada. Dela retiro os grãos necessários, levo-os à minha mesa e sacio minha fome.
Ao final de cada dia, após cumprimentar cada membro de minha família, nós unimos nossas mãos e agradecemos por todas as dádivas, por todas as bênçãos recebidas do Pai.
Ainda assim, nessa união familiar, ainda mais dádivas e bênçãos recebemos. E com ela saciamos a fome e a sede de nossas almas.

São Paulo, dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Reencontro

Tomei em minhas mãos pela última vez as mãos que tantas vezes beijei buscando reter nelas algum sopro de vida. Mas o gesto foi inútil.
Aos olhos da ciência médica o objeto de meu mais puro amor era apenas um corpo frio e sem vida.
Nas palavras do poeta, o seu destino fora selado pelo beijo da morte.
Nas palavras do sacerdote, sua alma repousaria eternamente no paraíso.
Mas poderia aquela que tanto amei repousar cândidamente no paraíso enquanto sou lançado às tormentas do desespero e às tempestades de sofrimento?
Ferrado aos meus pulsos, arrastava as pesadas correntes da angústia e da desesperança que ficavam ainda mais pesadas a cada dia. E, às portas do desequilíbrio mental, julguei que apenas me livraria delas se cortasse a golpes de lâmina os pulsos que elas aprisionavam.
Salvou-me em instante último a lufada de esperança da divina boa nova (1), a fé em que o corpo que amei já não mais existia, mas seu espírito ainda vivia e aguardava a hora justa para reencontrar-me.

São Paulo, novembro de 2010
(1) refere-se à doutrina dos Espíritos

sábado, 20 de novembro de 2010

Alegria

O esforço muscular, bem como o número de músculos envolvidos quando sorrimos é muito maior que os que empregamos quando choramos.
A despeito desse maior empenho, quando sorrimos nos sentimos leves, aliviados, repletos de energia e, de modo inverso, ao chorarmos nos sentimos vazios, debilitados e fragilizados.
Na verdade acontece precisamente o contrário do que as aparências nos permitem concluir.
Ao sorrirmos distribuímos e emanamos enorme quantidade de energias positivas e benéficas e é exatamente do prazer de compartilhar essas vibrações que advém toda a sensação de euforia e prazer que procede o sorrir.
Ao sorrirmos elaboramos um cuidados desenho com nossos lábios e expomos nossos dentes ao sol. A luz do sol neles se reflete, transformando e iluminando nosso semblante.
Ao sorrirmos selamos compromissos.
Ao sorrirmos expomos as nossas mais íntimas emoções.
Ao sorrirmos exteriorizamos nossa alegria e, com essa alegria, esculpimos um sorriso na face do planeta.

São Paulo, novembro de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Biblioteca

Imagine que você se encontre no interior de uma suntuosa biblioteca. Dezenas de milhares de volumes se encontram à tua disposição.
Qual deles você escolheria empregar em seus momentos de estudo e leitura?

Escolheria você aquele volume cuja capa e lombada apresentam letras gravadas em ouro? Seria o ouro testemunha do valor daquelas palavras?
Escolheria você aquele exemplar finamente encadernado em pelica? Seria a pelica, que envolve e protege aquele texto, indicadora de algo precioso?
Escolheria você aquele livro que apresenta o maior volume de páginas? Encerraria este grande número de páginas igual volume de informações úteis?

Ou analisaria você cuidadosamente o conteúdo daquela obra, avaliando e concluindo se ela acrescentará valor e consistência ao teu aprendizado?

O dever da biblioteca é o de possuir em seu acervo o maior número possível de livros, cobrindo assim, todo o conhecimento humano.
O teu dever é o de escolher e ler apenas aqueles que poderão contribuir para o teu aperfeiçoamento.

São Paulo, novembro de 2010

Uma prece por aqueles que se foram (Dia de Finados 2010)

Ao cruzarmos o estreito canal que une o conforto do útero materno ao mundo exterior nós atravessamos os portais de uma nova existência. Uma experiência repleta de surpresas e de incógnitas.
Nós não sabemos se nos tornaremos médicos, operários ou advogados. Não sabemos se seremos altos ou baixos, felizes ou infelizes.
Não sabemos se nos casaremos com aquele rapaz bonito. Não sabemos sequer se nos casaremos.
Não sabemos se nós teremos filhos. Será que nós teremos a felicidade de conhecer e tomar nos braços nossos netos?
São tantas dúvidas e dilemas.
Mas, para enfrentarmos cada etapa de nossas vidas nós nos preparamos com afinco.
São tantos livros, cadernos e apostilas. São tantos cursos, horas de estudo e noites mal dormidas.
Para todos os momentos de nossas vidas nós nos preparamos, exceto para o momento último e derradeiro. Momento este onde o choque entre a dura realidade dos fatos e as expectativas durante anos acalentadas podem provocar distúrbios e enfermidades de cunho psicológico, traumas de difícil solução e eliminação.
Sabendo disso, então, sempre que possível for, dirija para aqueles que partem tuas mais sinceras preces. Rogando ao alto o auxílio necessário aos irmãos desencarnados.

São Paulo, outubro de 2010

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Eterna criação

No frio e escuro espaço infinito novos corpos celestes são criados.
No cadinho da criação de Deus novos seres são gerados.
Os jovens corpos celestes estão sujeitos ao choque com asteróides e meteoritos.
O homem está sujeito às agruras e dificuldades de sua vida.
A ser atingido o corpo celeste vazar a lava quente de seu interior.
Ao ser tocado pelas intempéries de sua existência o homem extravasa a lava rubra da ira e as emanações púrpuras do desequilíbrio.
No solo do planeta, agora resfriado, a lava forma uma grossa camada que o protege de novas colisões.
No homem, resfriada a destemperança o equilíbrio é reestabelecido e o caráter moldado. Planetas e homens estão sujeitos à mesma lei de evolução.

São Paulo, outubro de 2010

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Punhal e sangue

Descontrolada, com o coração transbordando de ódio e o orgulho lanhado pelas maledicências, tomei nas mãos um punhal e parti ao encontro de meu detrator.
A cada passo que dava o fel da ira banhava-me o rosto e com mais força a arma eu segurava.
E quanto mais a apertava em minhas mãos, mais a arma me feria.
O cabo, à guisa de lâmina, penetrava minha carne, de onde sentia o sangue morno brotar.
Assustada, lancei ao chão o punhal e nunca mais o toquei.
Acreditava poder eliminar a origem de todo o mal que me abatia com apenas um só golpe.
Porém, ao combater a dor com a dor, percebi que apenas criaria uma segunda fonte do mal. Esta mais perigosa e persistente. Uma fonte dentro de mim.

São Paulo, outubro de 2010

Nos portões da cidade

Maltrapilho, arrastou seu corpo jovem e dolorido até os portões da cidade, onde ansiava receber auxílio.
Seu aspecto, no entanto, causava repulsa e todos dele desviavam o olhar.
Encontrou atenção apenas em um velho aleijado que vivia da caridade alheia.
O velho deu a ele a possibilidade a possibilidade de escolher o auxílio que mais gostaria de receber:
uma moeda de prata - capaz de alimentá-lo por 3 dias - ou um conselho.
Intuído por seu anjo guardião, o jovem, para surpresa do ancião, escolheu o conselho e o seguiu com fidelidade.
Regressou ao lar paterno que havia abandonado de modo unilateral e irresponsável e lá, como filho pródigo, foi recebido de braços abertos.
Uma moeda de prata nos compra a felicidade por um par de dias ou dois.
Um conselho precioso nos garante a felicidade por toda uma vida.

São Paulo, outubro de 2010

Educação



Tesouro cujo brilho é de mil sóis
sua luz é capaz de conduzir o homem
das sombras nefastas da ignorância
à mundo novo de letras, cores e sons.
À um mundo novo de arte, filosofia e
ciência.

Se queres transpor um obstáculo
se queres abrir uma porta
a educação é a chave necessária
é o passaporte adequado
para a continuidade
da tua evolução espiritual.

São Paulo, setembro de 2010

Saber ouvir

Não foi pequeno o alvoroço
causado em nossa comunidade
pela chegada daquele moço.
Mostráva-nos coisas que nunca tínhamos visto,
se dizia seguidor de um mestre,
um tal de Jesus, o Cristo.
Amor e caridade ele divulgava,
mas o povo da cidade
duras críticas a ele endereçava.
Contudo, sem se mostrar perturbado,
ele não devolvia as ofensas
e em paz permanecia, calado.
Incrédulos, o indagamos e ele respondeu:
"Ouvidos eu tenho dois
e não seria diferente, pois
eu muito ouço antes
para falar depois."

São Paulo, setembro de 2010

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Maturidade

Em um pomar muito fértil um homem nasceu menino e, como menino viveu, usufruindo com descaso dos frutos da terra, não os dividindo com ninguém e, também, não depositando na terra nenhuma semente.
-"Para que ?", perguntava-se.
- "A natureza cuida de si."
Com sua desatenção, apenas as árvores mais resistentes sobreviviam à falta de cuidados.
- "Por que se preocupar ?", questionava-se.
- "À despeito de sua preocupação as árvores continuam crescendo".
Porém, quando o peso da idade arqueou as suas costas o homem não mais podia alcançar os frutos que agora somente brotavam na parte mais alta da copa das poucas árvores restantes. E, não tendo semeado amizades ou novos ramos baixos onde pudesse obter alimento, o homem padeceu, vítima de sua insensatez. E tarde descobriu que a maturidade, que pouco tem a ver com a idade, nos ensina com humildade o caminho para vivermos com dignidade.

São Paulo, setembro de 2010

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Superando dificuldades

Quando eu era pequeno meus pais realizavam um estranho ritual que, aos meus olhos, era completamente inútil.
Quase que diariamente eles me tomavam pelos braços e insistiam em colocar-me de pé. Será que eles não percebiam que minhas pernas débeis e frágeis não podiam suportar o peso de meus corpo? Acho que não, pois eles continuaram com esse procedimento por meses e meses.
Logo também não mais me importava com isso. Passado aquela rotina desagradável, eu podia voltar à segurança do chão, onde brincava, engatinhava e me deslocava para onde desejasse.
Um dia, no entanto, algo inusitado aconteceu. Minhas pernas suportaram meu corpo e, por alguns instantes, pude manter-me em pé sem qualquer auxílio.
Se hoje caminho e me desloco como uma pessoa normal devo isso à persistência de meus pais, que me ensinaram os primeiros passos.
Atualmente quando me deparo com uma dificuldade, que julgo intransponível, lembro-me de meus pais, de meus amigos, dos espíritos amigos e de Deus, que jamais me abandonaram. E lembro-me, também, de Jesus que, em sua caminhada para o martírio final, também não recusou o auxílio do bondoso cireneu.
E, para recebermos o auxílio necessário, a ajuda que tanto precisamos e merecemos, basta deixarmos o orgulho de lado.

São Paulo, setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

Servir

Sirva a teus pais como filho e aos teus filhos como pai.
Sirva aos teus avós como neto e aos teus netos como avô.
Nos redutos do aprendizado, sirva como aluno. Sirva com trabalho junto a profissão que abraçaste.

Não são poucos os que tudo isso fazem e muito mais.
O que os difere, então, dos abnegados trabalhadores do bem?
Esses últimos, além de servirem aos homens e a si mesmos, servem a Deus e à humanidade dentro dos mais elevados princípios cristãos.
Não desperdiçam um minuto sequer no que não seja a prática do bem, pois as horas de suas vidas não são roubadas, são abençoadas.
São Paulo, agosto de 2010

Críticas

Por vezes o convívio com outras pessoas em sociedade nos reserva alguns dissabores.
Como por exemplo, quando aquele que mesmo não tendo auxiliado a caçada se indigna com o tamanho e a qualidade do animal abatido.
Ou como aquele que não tendo participado da coleta dos frutos não aceita tê-los à mesa verdes e amargos.
Contudo, no equilíbrio da natureza os dardos da crítica sempre se voltam para quem os arremessa.
Aquele que mais critica sempre é o mais criticado. Porque no tribunal da verdade o homem é medido conforme a dimensão do impacto de suas palavras e pesado segundo o peso de suas atitudes.

São Paulo, agosto de 2010

domingo, 29 de agosto de 2010

Auto-análise

Satélites esquadrinham a atmosfera, pois somente podemos evitar as tempestades que detectamos e avaliamos.
Microscópios inclinam-se ao estudo das culturas de diminutas bactérias, pois somente podemos debelar as infecções que identificamos e estudamos.
Toda ação exige antes reflexão.
E toda reflexão prescinde de informação.
Assim como o viajante precavido que examina cuidadosamente seu automóvel, analisando peças e partes que necessitam de troca ou reparo, a fim de evitar problemas em sua jornada, lancemos mão da lupa da razão e identifiquemos nossos pontos fortes e nossos pontos ainda a melhorar, de modo a não experimentarmos dissabores e tribulações em nossa viagem espiritual.

São Paulo, agosto de 2010

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Pai de amor (Dia dos Pais 2010)

Habituamo-nos a dividir o espaço de nosso celeiro com uma gata de pelagem castanha, a qual jamais soubemos de onde surgiu.
No verão, vendo que seu corpo se avolumava, providenciamos um local adequado onde ela deu a luz a quatro filhotes.
Então, nas tardes quentes observávamos com atenção o zelo e o carinho que a gata dedicava a seus rebentos.
Em uma manhã, porém, notamos a falta de um dos filhotes.
Por horas em vão o procuramos e na hora do almoço desistimos, dando-o como morto.
Para nossa surpresa, ao entardecer vimos a gata retornar do campo conduzindo na boca o filhote desgarrado à segurança da ninhada.
Se um animalzinho, irracional, guiado apenas pela bússola do instinto não dá as costas para sua criatura, que dirá nosso Deus, Pai de toda criação.

São Paulo, agosto de 2010

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Intimidade

São tantos sons, ruídos e barulhos.
São tantas vozes, conselhos e avisos que o ouvido, pequenino, não mais ouve.
Que o coração, descompassado, não mais percebe.
Que a mente, perturbada, não mais compreende.

Em meio ao caos a voz de Deus, através de seus abnegados servidores, vem até nós.

Mas de que adianta tanto esforço do bem se para Ele um minuto você não tem?

Então, recolha-te à intimidade, cubra-te com o manto do silêncio e todas as respostas se ouvirão, todos os problemas se solucionarão e todas, todas as dúvidas se dissiparão.

São Paulo, julho de 2010

sábado, 7 de agosto de 2010

Tranformações interiores

Há um momento na vida de todos nós onde parece que percebemos todos os problemas que afligem a humanidade e, para cada um deles, temos uma pronta solução.
Assim, com espírito juvenil típico dessa idade, pômo-nos a escrever cartas, manifestos, cartazes e faixas, anunciando nossas ideias em assembleias, reuniões, palestras e celebrações.
Para nossa surpresa, no entanto, o mundo permanece surdo a nossos apelos. Mesmo assim não desanimamos e, com fé, aguardamos.
Enquanto aguardamos algo começa a tomar conta de nós. Logo nos tornamos mais flexíveis, mais tolerantes, mais compreensíveis. Cedemos ao amor e nos tornamos homens e mulheres melhores.
Geramos vida. Concebemos.
E então, tudo aquilo que mais importa para nós no mundo não ocupa um espaço maior que um bercinho.
Então, um dia lançamos olhar através da janela do tempo e percebemos que nada mudou em nosso mundo, exceto nós e a forma com que olhamos o mundo, porque apenas as transformações interiores possuem força bastante para alterar a face do planeta.

São Paulo, julho de 2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Alegria e felicidade

Imagina vós que a dor, o sofrimento, as lágrimas e o lamento, tão comuns à poesia, ao romance e à dramaturgia, sejam o fim de nossas existências?
Assim como um pai ou uma mãe, Deus não deseja semelhante destino para os seus filhos.
Ora dirão: "A felicidade não é desse mundo". E estarão corretos.
Então cultivemos e cuidemos para que a alegria e a felicidade estejam presentes nos pequenos momentos de nosso cotidiano.
Saibamos protegê-las sob campânulas de vidro, que evitam o contato com as tempestades do desânimo, mas que permitem que sua luz ilumine os vales de sofrimento e as zonas escuras, dolorosas, do arrependimento.
A alegria e a felicidade são, mais que lampadários de Jesus, canais de comunicação com as energias mais sublimes da espiritualidade maior.
A alegria e a felicidade são o láudano necessário para suportarmos com resignação as dificuldades de nossa ascenção evolutiva.

São Paulo, julho de 2010

Coragem

Na limitada compreensão de minha juventude julgava serem corajosos os homens valentes que portavam armas brilhantes e reluzentes. Homens que impunham à todos suas vontades e seus caprichos, causando sentimentos contraditórios de admiração e temor.
Infelizmente, efêmeros eram seus reinados. Tão logo ascendiam aos postos mais elevados do poder e da glória outros, mais fortes e mais audazes, os desafiavam e os depunham.
Apenas quando os fios de minha barba perderam sua cor pude perceber que coragem pouca relação possui com sangue, com medo ou com violência, compreendendo que o homem de verdadeira coragem é aquele que desce às profundezas dos abismos da alma e de lá retorna renovado.
Homens de verdadeira coragem são aqueles que reconhecem estar errados e, humildemente, aprendem com seus próprios erros.
A verdadeira coragem está em acreditarmos na renovação e na transformação do mundo, começando pela nossa renovação e transformação interior.

São Paulo, julho de 2010

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Suportando as dores necessárias

Uma criança que nada sabe, que tudo desconhece, nada teme.
O livro de sua vida não possui, senão, páginas em branco.
A curiosidade e o desejo do conhecimento impelem seus pequenos braços rumo ao desconhecido.
Cedo descobre as boas sensações proporcionadas pelo sabor do sorvete e pelo abraço materno.
Cedo descobre os dissabores dos machucados e do remédio amargo.
Cedo compreende a necessidade de expor seu corpo ao ataque das agulhas das vacinas e das injeções para um bem maior.
Muita das vezes nos comprotamos como crianças. Sabemos e reconhecemos a necessidade de nos expormos às expiações e experiências dolorosas, mas não o fazemos senão com o rosto coberto de lágrimas.
E apenas nos acalmamos quando percebemos que um dia as dores cessam e redescobrimos o sabor do sorvete e do abraço materno.

São Paulo, junho de 2010

Equilíbrio

O edifício em desequilíbrio é prenuncio de tragédia.
O clima em desequilíbrio é sinal de tempestade.
O homem em desequilíbrio é subjugado pelas viciações e pelas vicissitudes.

No cosmo planetas de infinita magnitude gravitam estrelas em perfeito equilíbrio.
No mundo atômico minúsculas partículas dividem espaços infinitesimais em refinada harmonia.

Por todo o universo as leis divinas garantem o equilíbrio e a harmonia em oposição à tormenta e ao caos.
Equilibra-te.
Harmoniza-te.
O equilíbrio e a harmonia são base sólida onde você poderá alicerçar os pilares de teu crescimento moral.

São Paulo, junho de 2010

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Semeadura e colheita

O lenhador constrói sua casa no alto de modo que a neve e a água do degelo não se acumulem junto a ela.
Constrói, também, o piso elevado em relação ao chão.
Assim, sua casa fica isolada do frio e da umidade.

No lado norte, instala a lareira e o fogão, pois dessa forma o vento soprará para longe a fumaça, e reserva o lado leste para o dormitório, assim os primeiros raios de sol da manhã encontrarão a janela do seu repouso.
O lenhador precavido não se deixa surpreender pela natureza.

O futuro não pertence a Deus. Pertence a quem planeja e antevê.

Podemos escolher a quantidade, a qualidade, a forma, as cores e o perfume das flores que desejamos possuir em nosso jardim. Podemos, até, selecionar as sementes. Mas só apreciaremos e poderemos o aroma experimentar das flores que hoje semeemos.

São Paulo, junho de 2010

sábado, 29 de maio de 2010

Caridade e amor

Caridade é doação e a caridade tem na ação a sua visível porção, tangível.
É através da ação que a caridade se torna atenção, consolação, reparação e renovação dos ambientes onde é praticada.
Mas, muito antes da ação ter lugar, antes da caridade se concretizar, o ser humano é envolto pela inspiração, uma lufada de energia de elevada vibração.
A inspiração toca o ponto mais sensível do homem - seu coração - envolvendo, assim, todo organismo em intensa emoção. A emoção, que não encontra vazão, vale-se da razão, que fornece elementos para que a caridade encontre sua realização.
É interessante notar que a cada manifestação a caridade serve de inspiração para outros homens, em um moto-contínuo, multiplicando sua abrangência como em uma potenciação.
Porque assim quis Jesus: uma vez entre nós instalada, a caridade fosse por nós ampliada e jamais de nós afastada.

São Paulo, maio de 2010

terça-feira, 25 de maio de 2010

O cavalo, o cavaleiro e a sela

Cavalo e cavaleiro formam o conjunto ideal para vencer grandes distâncias.
A força bruta de um compensa a fragilidade do outro. O raciocínio de um controla o instinto do outro.
Entre eles, a sela.
Se esta for ajustada com muita firmeza o animal se torna indócil e não se pode ir a parte alguma. Porém, se ela estiver frouxa demais não se faz possível montar.
Se feita de couro muito rijo, transforma a viagem em tortura e pode machucar a montaria. Contudo, se for confeccionada com couro macio logo se deforma e se torna inútil.
Amigos, diante dos pequenos fatos da vida cotidiana extraímos grandes ensinamentos.
Homens, unam-se !
As virtudes de um superarão os defeitos outros e, da união, surge uma massa homogênea onde todos se apoiam e se amparam rumo à grande jornada, observando que a harmonia, o caminho do equilíbrio, é o melhor atalho rumo a nossa evolução.

São Paulo, maio de 2010

domingo, 16 de maio de 2010

O comerciante

Na cidade em que nasci havia uma modesta mercearia que atendia uma limitada clientela.
Seu proprietário divertia-se afirmando não ter dificuldades para administrar seu negócio, fosse pelo reduzido número de clientes mas, principalmente, por conhecer todos eles pelo primeiro nome e também saber saber de cor todas suas necessidades e preferências.
Quando atingiu idade avançada, severa enfermidade arrastou o comerciante ao leito de morte onde este lamentava o muito que trabalhou e o pouco que enriqueceu, o muito que ofereceu e o pouco que recebeu.
Não foi sem surpresa, portanto, que no derradeiro momento de seu desenlace viu-se cercado por inúmeros amigos e clientes que, precedendo-o na jornada espiritual, vinham recepcioná-lo, homenageando aquele que com carinho e dedicação os serviu por tantos anos, aquele que bem soube amealhar tesouros verdadeiros no céu.

São Paulo, maio de 2010

sábado, 8 de maio de 2010

Mãe (dia das mães 2010)

No seu ventre tua semente encontrou solo fértil para germinar.
Ofertou-te o calor de seu corpo e o alimento de seu seio.
Envolveu-te em seus braços, protegendo-te, quando os teus braços, ainda pequeninos, não podiam defender-te.
Interpretou teus desejos e tuas necessidades quando palavras ainda não saiam de tua boca.
Curou tuas chagas e tuas doenças.
Educou-te e te preparou para a vida e, à esta entregou-te pronto.

Há homens que sentem saudades dos tempos em que os deuses caminhavam sobre a terra porém, olhando para minha mãe percebo que esse tempo ainda está longe de acabar.

São Paulo, maio de 2010

sábado, 1 de maio de 2010

Aparando as diferenças

Ante as imutáveis leis divinas somos todos iguais porém, no mundo imperfeito dos homens somos todos diferentes.
Somos iguais na essência e na criação de nosso Pai celestial e diferentes na aparência, tendências, ideias e temperamento.
Sob as grossas lentes do preconceito as diferenças humanas tomam vulto e assumem dimensões de intransponíveis cordilheiras.
A aspereza do orgulho, da inveja do ciúme. A rugosidade do trato indelicado, do desrespeito. As lâminas e as setas dos conflitos e das guerras que cortam e dilaceram a carne e o coração.
E assim se faz preciso, pois no embate entre as muralhas da intolerância e as espadas do ódio, as muralhas tombam ao chão e as espadas perdem o gume e a função.
Da mesma forma que a água do rio transforma a pedra bruta em seixo arredondado, a torrente de lágrimas do sofrimento humano suaviza, balsamiza e lubrifica as engrenagens das relações humanas, fecundando o ventre da humanidade com o gérmem de uma nova moral que norteará, em tempo próximo, a vida e o coração dos homens.

São Paulo, maio de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

Fé iluminada

A fé, sempre abençoada,
por vezes não encontra guarida
em nossa alma angustiada.
E nossa vida se torna um fardo,
um entrave, de tão pesada.

A fé é a lamparina
que ilumina a estrada.
É a sandália
que suaviza a caminhada.
É o cajado,
que no momento derraradeiro
e íngreme,
nos auxilia na escalada.

Assim, não seja tua fé
pela dor, suplantada.
Pelo fanatismo, desequilibrada.
Por dogmas, atormentada.

Seja antes tua fé,
pelo amor, raciocinada.

São Paulo, abril de 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Meu lar nas Dakotas

Meus pais me ensinaram observar e interpretar os sinais na natureza, antevendo problemas e dificuldades futuras. Quando as abelhas, por exemplo, produzem e estocam mais mel no outono é um indicativo de que um inverno mais longo e rigoroso se avizinha.
Dessa forma, preparam-me para detectar e precaver-me contra todas adversidades que pudesse enfrentar em vida. Mas não me prepararam para as provas e sofrimentos que haveria de enfrentar depois de minha morte.
Após minha hora final, minha completa separação do mundo que conhecia e dominava, caminhei entre sombras e cavernas, entre pântanos e vales de sofrimento. Testemunhei lamentos e gemidos, compartilhei a dor do abandono e da solidão com pessoas que jamais suspeitei existirem.
Gastava boa parte de meu tempo tentando voltar aos prados e aos campos das Dakotas, onde cresci e vivi, sem contudo lograr êxito. E por mais que me esforçasse nesse intento, sempre fracassava pois, simplesmente não os encontrava.
Onde antes haviam planícies verdejantes até o horizonte, máquinas aravam e semeavam a terra. Onde haviam flores e bosques, só encontrava infinitas plantações de milho. Casas ladeavam os rios onde outrora eu me refugiava em busca de paz e sossego. Estradas cortavam as montanhas trazendo aos locais, antes sagrados ao nosso povo, o ruído dos veículos e pessoas apressadas e esimesmadas em suas preocupações.
Em uma tarde de outono, quando eu caminhava junto às nascentes dos rios que desaguam no grande lago, eu reconheci uma silhueta no horizonte. Não pensei, nem por um minuto, que pudesse ser uma miração. Agarrei-me a perspectiva de reencontrar aquele velho homem, e corri na direção daquela imagem escura que se desenhava contra o poente.
Não pude dizer palavra, apenas abracei aquele velho amigo e lágrimas correram de meus olhos e molharam seus ombros. Recompus-me e observei que as feições dele, ainda que marcadas pelo tempo, estavam mais suaves e serenas. Eu tinha tanto a dizer, tanto a perguntar, tanto a lamentar, tanto a indagar, tanto a dividir e compartilhar. E eu o fiz.
Sentamo-nos junto ao fogo e lá conversamos até a noite alta nos cobrir com seu manto de estrelas. Sentia-me à vontade junto àquele homem que, com palavras suaves respondia a todas minhas perguntas. E as palavras de sua boca saíam ainda com mais sabedoria e convicção que antes, quando muitos da aldeia sentavam-se junto dele para ouvir e aprender as estórias de nossos antepassados.
Ouvindo aquela voz e desfrutando daquelas palavras, a saudade apenas aumentava. Toda a dor e o sofrimento do afastamento represadas em meu peito se faziam ouvir em um lamento. Eu deitei minha cabeça no colo daquele homem e chorei compulsivamente.
Ele pareceu não se perturbar com tudo aquilo. Repousou uma de suas mãos sobre minha cabeça e cantou uma antiga cantiga. A melodia de sua voz acalmou meu coração e apaziguou minha mágoa.
Então ele ergueu minha cabeça até que meus olhos pudessem encontrar os seus e disse calmamente: -"O mundo que você amou, o mundo que eu amei, não existe mais aqui. Nosso mundo aqui pertence ao passado. Mas esse mundo ainda existe em outro lugar, onde nosso povo se reúne, trabalha e vive de acordo com nossas tradições. Sei que você tem desejo de retornar ao seio de nosso mundo. Sei que você anseia reencontrar a paz que perdeu. Então, não quer você me acompanhar e reencontrar aqueles que ainda te amam?"
Tamanha emoção tomou conta de mim que não pude responder. Minha voz embargada não se fazia ouvir. Uma lágrima solitária rolou de meus olhos e um sorriso estampou-se em meus lábios. Era hora, finalmente, de voltar para casa.

São Paulo, abril de 2010

domingo, 18 de abril de 2010

O Livro dos Espíritos

Alguns gestos e atitudes sempre me pareceram normais e cotidianos: Dividir a terra e seus frutos com meus companheiros, repartir a caça com meus irmãos, amparar e auxiliar os idosos e os enfermos e responsabilizar-me pela educação dos jovens, mesmo daqueles que não são meus filhos.
Somente após o desenlace de meu corpo pude então perceber que tudo isso pertencia a algo bem maior.
Assim, tão logo a reconheça, abrace com carinho a doutrina (1) que balsamiza o coração, agasalhe em teu seio os ensinamentos que nos educam para a vida. Tome do livro das respostas para vida (2) , abra-o, leia-o, e uma nova vida se abrirá para vós.

São Paulo, abril de 2004

(1) O Espiritismo, codificado por Allan Kardec.
(2) O Livro dos Espíritos, primeira obra da codificação espírita, redigido no formato de perguntas e respostas e editado pela primeira vez em abril de 1857 por Allan Kardec.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Estrada de ferro

Na estrada de ferro, o aço de cada trilho permanece paralelo um ao outro sem jamais se encontrarem.
Porém, unidos estão por dormentes de madeira que os mantém na exata equidistância necessária para o transporte seguro.
Os trilhos são como irmãos.
São como nossos irmãos.
Diferente do que ocorre com nossos pais ou nossos antepassados, um trilho não está acima do outro na hierarquia social. Eles estão lado a lado. E apenas encontram segurança um no outro.
Diferente do que ocorre com nossos filhos ou nossos descendentes, um trilho não está abaixo do outro na hierarquia social. Eles estão sempre lado a lado, amparando, sustentando e auxiliando um ao outro. Seguindo até onde a vista alcança, através da imensidão do tempo. Seguindo para todo o sempre rumo a evolução.

São Paulo, abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

Siga você também !

Lanço os olhos para o regato próximo e acompanho, curioso, seu fluxo cristalino.
Não importam o tamanho, o formato, a posição ou a constituição dos rochedos, a água sempre encontra meio de seguir seu caminho.
Mais além, em um bosque, a mata se faz fechada. Mas não importam a espessura dos galhos ou a quantidade de folhas, o vento sempre encontra maneira de atravessá-la.
A natureza segue, inabalável, seu curso.
Siga pois, você também !
Não se detenha frente aos problemas, não estacione ante aos revezes, não fique imóvel junto aos dissabores, não se perturbe ao tomar ciência dos problemas e dificuldades.
Permita que o fluxo da natureza o auxilie.
Deixe que as luminosas mãos dos dedicados irmãos que velam por ti guiem teus passos.
Jamais duvide do amparo e do auxílio divino.
Confia e segue !

São Paulo, abril de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

A pena da águia

Quando julguei-me suficientemente preparado, saí em busca de Deus.
Subi ao mais alto cume, onde a neve nunca derrete, mas lá ouvi apenas o vento.
Desci, então, aos mais profundos desfiladeiros, onde o calor sufoca toda forma de vida, mas lá apenas ouvi o uivo dos coiotes.
Infelizmente, não nos é dada permissão para conhecermos a natureza de Deus.
O espírito de Deus é como a pena de uma águia a qual tomamos em nossas mãos e apreciamos a beleza de suas formas, de suas cores, sua harmonia e sua perfeição, mas não compreendemos como pode algo de aparência tão frágil erguer aos céus pássaro tão pesado.
Assim, seja na água que propicia a vida, no fogo que ilumina a noite, na terra que acolhe a semente, saibamos divisar e reconhecer a pena de águia, sinal incontestável da presença de Deus em toda sua criação.

São Paulo, abril de 2010

domingo, 28 de março de 2010

Equus

Apesar dos anos de convívio, ainda tenho olhos de admiração e de inveja para meu cavalo.
Ele possui os cascos grossos da paciência, com os quais transpõe, sem perturbar-se, as rochas os espinhos e as dificuldades do caminho.
Graças a sua mansuetude, ele aceita com alegria e disposição os comandos de seu condutor.
O sol, a chuva, o vento e o frio não o fazem desistir da jornada e sua respiração, calma e harmonizada, permite que ele caminhe por léguas sem descanso.
Ao contrário, eu me desespero frente as menores agruras e blasfemo contra os desígnios superiores.
Ante as adversidades climáticas penso em desistir da jornada e minha respiração, embargada pelas emoções, em nada contribui para melhorar estes quadro.
Assim, junto à fogueira da noite eu ergo meus olhos para o céu, em direção às estrelas, e rogo sinceramente ao Pai: - "Senhor, engrossai nossos cascos".

São Paulo, março de 2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

Pegadas

Não faria sentido algum caminhar sobre as rochas onde meus pés não deixam marcas ou rastros.
Assim, caminho na areia e na poeira das estradas, deixando nelas impressas minhas pegadas, testemunhas de minha passagem por este mundo.
Desta forma meus filhos e os filhos destes poderão, se assim desejarem, seguirem meus passos.
Valho-me, também, de outros sinais.
Nas árvores junto ao caminho amarro fitas coloridas e, nas colinas onde oro e repouso meu corpo, ergo pequenas pilhas de pedras.
As fitas, sopradas pelo vento, nos lembram que estamos todos sujeitos a uma força maior e as pedras, imóveis, não nos deixam esquecer que a única coisa perene neste mundo é o amor que colocamos em nossas orações.
Então, sigo meu caminho, o caminho já percorrido por meu pai e pelo pai dele, desfrutando o legado de experiências que eles me deixaram, pois a educação, transmitida de geração a geração, é a chave para a evolução maior.

São Paulo, março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

Jonas

É uma região habitada por pessoas brutas e de modos rudes, diziam.
Outros afirmavam que nem o sangue de todos os santos poderiam conferir alguma angelitude àquelas terras.
Isso não desanimou Jonas, que para lá seguiu, levando apenas seu cajado de peregrino e seu caderno de notas.
Dotado de prosa ligeira, astuta, Jonas possuía incrível capacidade para contar estórias e, não raro, reuniam-se ao seu redor dezenas e dezenas de atentos ouvintes.
Aproveitando a audiência, Jonas pontuava sua narrativa com lições de fé, de amor e de caridade.
Após sete anos uma senhora o inquiriu: - "Jonas, quando nos tornaremos bons cristãos?".
E o missionário respondeu: -"Durante sete anos convivi convosco, sentei-me a vossa mesa e convosco dividi o abrigo, e nunca, durante todo esse tempo, observei quaisquer gesto, pensamento ou inclinação para o mal". "O bom cristão - prosseguiu - não é o que possui títulos. Não é que carrega o crucifixo junto ao peito. O bom cristão o é, antes mesmo de sabê-lo".
E com essas palavras Jonas despediu-se de seus amigos, partindo para outras terras onde seus ensinamentos se faziam necessários, levando consigo em sua memória e em seu caderno de notas sete novos anos de estórias.

São Paulo, março de 2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

Deserto

Na vastidão das estepes asiáticas havia uma aldeia cujo povo vivia à margem de um grande deserto.
Ao completarem 14 anos os rapazes daquela aldeia precisavam, a fim de mostrarem coragem e serem reconhecidos pelos demais membros, empreender uma jornada solitária de vários dias, cruzando o deserto em sua porção mais árida, até a outra extremidade onde deveriam recolher e trazerem consigo as flores de determinado cacto que florescia apenas naquele local. As flores seriam, então, a prova da conclusão da jornada e, ostentadas junto à gola de seus mantos, prova de sua coragem.
Se observado todos os conselhos dos mais velhos, a travessia, apesar das dificuldades, não representaria grande perigo. Os mais velhos conheciam bem o caminho e, tendo já concluído a travessia diversas vezes, conheciam seus perigos e aconselhavam sobre o que era importante levar nas mochilas dos garotos.
Eles recomendaram para todos viajantes, entre eles os primos Isnar e Kassim, levarem 10 litros de água cada. Contudo, devido ao temperamento pessoal e inclinações particulares, eles não obedeceram a essa recomendação.
Isnar desejava ser o primeiro a completar a jornada, o primeiro a retornar a aldeia com as flores, sendo reconhecido, assim, não só pela sua coragem mas pela sua força e agilidade. Os 10 litros de água iriam dificultar sua marcha. Assim, para poder caminhar mais rápido, Isnar levou consigo apenas 5 litros de água.
Kassim, um menino franzino, não pretendia disputar as glórias com Isnar. Dar-se-ia por satisfeito apenas completando a jornada. Seu caminhar era lento e ele temia que seu suprimento de água terminasse antes que completasse a travessia. Desse modo, achou mais prudente levar em sua mochila 15 litros de água.
Dias mais tarde, todos os garotos, exceto os primos Isnar e Kassim haviam retornado do deserto. Os aldeões aguardaram ainda mais alguns dias e então equipes de busca foram enviadas.
Os corpos inertes dos primos foram encontrados apenas algumas centenas de metros um do outro. Isnar havia consumido todo seu suprimento de água e seu corpo apresentava sinais evidentes de desidratação. Kassim, por outro lado, ainda possuía muita água em sua mochila, mas o peso excessivo desta havia imposto a ele um esforço além de seus limites e seu corpo sucumbiu de exaustão.
A imprudência e a ambição de Isnar, bem como o temor e a falta de confiança de Kassim, cobraram seu preço.
Na vida, ante as dificuldades, não coloquemos nossas fraquezas acima do conhecimento e do senso comum. Não sejamos precipitados e irresponsáveis a ponto de colocarmos em risco toda a conquista. Porém, não sejamos, também, excessivamente zelosos ou temerosos a ponto de não darmos o primeiro passo.

São Paulo, março de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

Sentado à beira do caminho

Sentado à beira do caminho passei vários anos de minha vida.
Recostava-me no tronco de uma árvore frondosa, aproveitando sua sombra e, eventualmente, degustava seus frutos.
Distraía-me observando os viajantes apressados e atarefados ora seguirem em uma direção, ora em outra.
Certa manhã, porém, surpreendi-me com a visão de uma magnífica carruagem sem cavalos cujas rodas não tocavam o solo.
O estranho veículo, com visíveis problemas mecânicos, parou a poucos metros do local onde eu estava e seu condutor prontamente dele saltou para efetuar os reparos necessários.
Enquanto isso corroía-me a curiosidade. Tentava imaginar as sensações ao vencer longas distâncias sem esforço ou ainda imaginar quem seria o meritório passageiro de tão elegante veículo.
Ainda mergulhado em meus questionamentos, ouvi o condutor me chamar e convidar-me a viajar naquele veículo.
Tomado de surpresa, lembrei-o que o passageiro daquele transporte poderia não gostar de meu atrevimento em tomar-lhe o posto, ao que ele me respondeu:
- "Sobre o que pensa o passageiro respondas-me tu, pois minha missão aqui não é outra senão resgatar-te, porque nos caminhos do Senhor ninguém é deixado para trás."
Então ergui-me e dirigi-me para a estranha carruagem lembrando das palavras que minha mãe repetia:
- "Jamais pergunte por quem os sinos dobram, se você pode ouví-los, eles dobram por você."

São Paulo, fevereiro de 2010

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Cabana na montanha

Apesar das críticas de meus parentes e da reprovação de meus amigos, decidi, no início da primavera, partir rumo às montanhas e lá construir uma cabana.
Devido minha idade avançada e, também, devido minha vontade de caprichar nos detalhes, a obra apenas terminou com as primeiras nevascas de inverno.
Poucos dias após, no entanto, fui acometido por terrível enfermidade. Mesmo tendo sido conduzido para a aldeia no vale, onde recebi os cuidados médicos necessários, vim a falecer.
Meu filho mais velho, que morava em outra localidade distante, a fim de prestar-me as homenagens fúnebres deveria, então, enfrentar a perigosa travessia das montanhas em pleno inverno.
Seu cavalo não resistiu à aspereza da jornada e sucumbiu frente às dificuldades da viagem.
A vida de meu filho seria ceifada não tivesse ele encontrado, em local onde sabia nada existir, uma cabana nova, bem construída e desabitada. A minha cabana.
Ainda não sei porque Deus tirou-me a vida, mas já sei porque ele me a deu.
Deus concedeu-me o dom da vida para que eu pudesse multiplicá-lo junto a meus descendentes, transformando os elementos da natureza com meu trabalho de modo a garantir que a vida seja preservada e se perpetue.

São Paulo, fevereiro de 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Carnaval (2010)


Nestes momentos de alegria, de paz,
quando transbordam os sentimentos de felicidade,
de modo quase infantil,
recordemos daquele que com
mansietude e beleza,
beatitude e singeleza,
nos ensinou a sorrir.

Assim, no lugar de sombras temos a luz,
no lugar de sofrimento temos a fé,
no lugar do ribombar dos canhões
temos a paz e a alegria,
porque Jesus é a verdadeira alegria dos homens.


São Paulo, fevereiro de 2010

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Velho marinheiro

Eu sou apenas um velho marinheiro de feições duras, esculpidas pelo tempo.
O mesmo tempo que desbotou minhas vestes e desgastou minhas botas.

Minha coragem, admirada por muitos, não seria mais que coleção de gestos irresponsáveis não fosse minha fé.

E essa fé eu reforço todas as noites, orando e pedindo ao Pai para que eu possa manter minha embarcação na margem correta do rio de acontecimentos, que eu possa conduzí-la, seguro, ao oceano da paz de Deus.

Peço, também, que eu possa resgatar os desviados, amparar os desvalidos, assistir os necessitados. Que eu possa ser motivo de orgulho para meus pais e que eu possa ser reconhecido como filho do Pai maior.

São Paulo, fevereiro de 2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

A fé

A fé inabalável,
a fé inalienável,
a fé inquebrantável,
não pode existir apoiada no mito, no dogma, na sugestão infundada.

Essa fé não sobreviveria ao contato com a realidade.

A fé não é um meio de pedirmos ou obtermos coisas.

É, antes de tudo, um fim, resultado da eliminação de nossas dúvidas, nossos questionamentos.

E ali, na terra fértil
onde não resta dúvida ou dilema,
germina a semente da fé verdadeira.

São Paulo, setembro de 2006

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Hálito divino

Seja preenchendo as vastas imensidões do espaço ou seja dentro do diminuto espaço de um grão de pólen, o amor de Deus, o hálito divino, está contido em todas as formas e objetos do universo.

Matéria primária, é com esse recurso que construímos nossos corpos e tudo aquilo que impressiona nossos sentidos.

Em contato com nossos corações esse recurso único se transforma em energia poderosa, fluida e intensa.
É o amor, força elementar e necessária ao equilíbrio de nosso mundo, capaz de amparar necessitados, agasalhar desamparados, acolher desafortunados e também capaz de despertar almas mergulhadas em sono transitório e ilusório, da qual não poderiam, por si próprias, libertarem-se.

Acolher, amparar, proteger e libertar.
O que mais poderia o hálito divino desejar realizar?

São Paulo, janeiro de 2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Caminhar na luz

Há os que caminham nas sombras da noite e privam-se dos desconfortos da luz do sol em suas peles e olhos.
No entanto, não obstante aos riscos das armadilhas e emboscadas há,
também, o problema de, uma vez findo o tempo da jornada, nos encontrarmos muito distante do ponto anteriormente almejado.

Andar à noite é criar subterfúgios para evitar pequenos transtornos e dissabores, dificuldades temporárias que, ao fim da jornada, serão transformadas em multiplicadas bênçãos.

Andemos na luz !
Caminhemos na luz ! Sem medo, sem temor.
Reconhecendo neste caminho iluminado a menor distância para nossa evolução.

São Paulo, outubro de 2006

sábado, 30 de janeiro de 2010

Olhar de amor

Eu sou a luz do mundo, disse o mestre Jesus. E sua luz envolve todo nosso planeta transformando nosso orbe em uma esfera luminosa de amor, harmonia e paz.

Essa luz que tudo envolve, essa luz que a todos envolve, manifesta-se em nós no reflexo de nossos olhos, essa duas esferas perfeitas que refletem a luz de Jesus.

E mais refletem quanto maior for o nosso amor, porque não há nada que brilhe mais que um olhar repleto de amor.
São Paulo, setembro de 2006

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O verdadeiro fim do mundo

Há homens que passam pela vida e nela deixam marcas profundas, nas artes, na ciência ou na filosofia. Outros, no entanto, deixam a vida passar por eles.
Há homens que deixam este mundo nos braços da saudade, de seus amigos, parentes e admiradores. Há outros, por outro lado, cujo mundo apenas os deixa.
Entre esses últimos há os que, devido sua tristeza, pessimismo e melancolia, se comprazem em criar e difundir teorias, estudos e teses de um apocalipse, de um cataclismas, do fim do mundo, do fim dos tempos.
Mas, há de haver o escândalo.
Se profetas bradam que haverá fome, empenhamo-nos em melhor semear, cultivar e colher. Se videntes resmungam que haverá sede, inclinamo-nos a melhor cuidar e preservar nossas águas e de nossos mananciais, sempre gerando progresso e prosperidade.
Mas, não se enganem! Os trabalhadores do bem também desejam o fim do mundo.
Desejamos, de todo coração, o fim do mundo da discórdia, do mundo das guerras, do mundo do preconceito, do mundo da opressão e do mundo da indiferença. E oramos, fervorosamente, para que essa profecia, enfim, se cumpra.

São Paulo, janeiro de 2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Quantidade e qualidade

Por vezes nem todos os livros de uma biblioteca são capazes de responder algumas de nossas indagações.
Desconhecemos a natureza da luz, o completo funcionamento do cérebro, o número de estrelas no firmamento.
O oceano, apesar de possuir enorme volume d'água, é incapaz de matar a sede de um único ser humano.

A quantidade é necessária, mas a qualidade é imprescindível.
A mão que apoia e sustenta o desenganado é mais forte que as fundações de um edifício.
A luz que um coração em prece sincera emite é capaz de ofuscar mil sóis.

Saibamos valorizar os pequenos gestos, as palavras que calam.
É um mundo onde o menos vale mais, onde o pequeno grão possui mais fé que a montanha imóvel.

São Paulo, dezembro de 2009

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sabedoria e equilíbrio

Sabedoria para muitos homens é a reunião de todo conhecimento, de todas informações que possam desvendar as causas, consequências e soluções dos problemas venham surgir.
Maior sabedoria porém reside em empregar esse conhecimento no bem maior.

Uma carruagem de seis corcéis possui força suficiente para vencer as distâncias rapidamente.
Maior força porém reside no equilíbrio que permite que a força seja dosada de forma correta e que esta não falte nos momentos derradeiros da jornada.

Sabedoria e equilíbrio são as palavras-chave para o bom uso das dádivas que recebemos, sejam elas nosso corpo, uma nova existência, uma oportunidade de redenção.

E que assim seja feito, para que os que sofrem voltem a ter esperança, os que choram voltem a sorrir, e para que todos nós possamos retornar ao seio do Pai.

São Paulo, janeiro de 2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A chave do coração

A palavra não dita não consola as almas que sofrem.
O sentimento represado não toca o coração endurecido dos carentes de afeto.
O gesto contido não é percebido e não auxilia o necessitado.

Então, vamos sorrir e levar o perfume de nossa alegria à todos locais por onde passemos.
Vamos estender nossos braços em trabalho fraterno, assistindo os que sofrem privações.
Vamos levar o lenitivo da palavra aos que tanto necessitam de conforto.

Vamos externar, com segurança, com alegria e sem temores, as transformações que Jesus realizou em nossas vidas, informando à todos que o Reino dos Céus, o mundo de amor e paz, já chegou e junto de nós se avizinha.
Basta que abramos a porta com a chave de nosso coração.

São Paulo, dezembro de 2009